Transição Energética 98
Dinâmica Internacional
África: Novo aporte de € 7 bilhões para aceleração da transição energética
A União Europeia anunciou um novo aporte de € 7 bilhões para acelerar a transição energética da África, ampliando para €15,5 bilhões o total mobilizado desde 2024 para projetos de energia limpa no continente. Segundo a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, os recursos devem viabilizar cerca de 27 GW de energia renovável — o dobro da capacidade atual — e levar eletricidade a 17,5 milhões de lares, apoiando simultaneamente a meta africana de acesso universal até 2030 e o crescimento econômico inclusivo. O financiamento impulsionará grandes parques solares e eólicos em países líderes como Quênia, África do Sul e Marrocos, além de expandir redes e levar energia estável a regiões de baixíssima eletrificação, hoje dependentes de geradores a diesel. A iniciativa busca também catalisar investimentos privados e públicos adicionais e fortalecer cadeias industriais ligadas à energia limpa, inclusive por meio de parcerias como o acordo de Comércio e Investimento Limpo com a África do Sul, focado em renováveis, hidrogênio verde (H2V) e matérias-primas críticas. Embora o montante ainda represente apenas um sexto do necessário para que a África atinja suas metas climáticas, analistas consideram o movimento um marco para destravar reformas, cooperação regional e capacitação técnica. O anúncio, feito às vésperas do Encontro do G20, reforça a visão de que a resiliência econômica e ambição climática da África são estratégicas para o comércio e investimento global, mas isso dependerá implementação de projetos, redução de riscos regulatórios e fortalecimento das infraestruturas locais para gerar eletrificação e promover o desenvolvimento sustentável. (Africa Sustainability Matters – 23.11.2025)
COP30: Países árabes se opõem a incluir petróleo no mapa da transição energética
As negociações da COP30 foram tensionadas pela oposição do grupo árabe, liderado pela Arábia Saudita, a qualquer menção ao petróleo no “mapa do caminho” para a transição energética. Para esses países, incluir combustíveis fósseis nas decisões oficiais colocaria em risco seus modelos econômicos fortemente dependentes da exploração petrolífera. Por outro lado, União Europeia, Colômbia e outros defensores do fim progressivo dos fósseis consideram inviável a conclusão da COP sem um compromisso explícito. O Brasil, embora proponente do roteiro de redução fóssil, manteve postura pouco assertiva diante do impasse. A divergência soma-se a outros entraves: a baixa ambição das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), as medidas unilaterais de comércio e a falta de financiamento para adaptação climática. Para avançar, a presidência passou a organizar grupos menores de países para buscar alternativas de linguagem. A China, historicamente resistente ao debate sobre abandono dos fósseis, desta vez adotou posição mais discreta e apelou por consenso que preserve a confiança no multilateralismo. Apesar do bloqueio sobre combustíveis fósseis, um roteiro para zerar o desmatamento, tema considerado menos controverso, foi visto com bons olhos. Segundo a ministra Marina Silva e o presidente da conferência, André Corrêa do Lago, o momento exige “realismo” para buscar o melhor resultado possível dentro das limitações políticas. (Amazonas Atual – 22.11.2025)
GWEC: Capacidade eólica onshore da América Latina pode dobrar até 2035
A América Latina pode ultrapassar 120 GW de capacidade eólica onshore até 2035, mais que dobrando o volume atual, segundo o GWEC. Para isso, governos e indústria precisam fortalecer uma cadeia de suprimentos hoje fragmentada e concentrada em Brasil e México, que limita o avanço regional. A ALC possui vasto potencial e carteira crescente, incluindo 1 GW offshore até 2032 e mais de 40 GW projetados até 2045, mas enfrenta incertezas políticas, infraestrutura frágil, gargalos logísticos e dependência de componentes importados, como caixas de engrenagens. Para cumprir a meta de triplicar renováveis definida na COP28, a região precisa acelerar a instalação eólica a uma taxa anual de 16,6% nesta década. O relatório destaca que a expansão pode gerar empregos duradouros, estimular manufatura local e transformar economias com portos e redes modernizadas. Além disso, a América Latina detém 25% dos minerais críticos necessários à transição energética, o que lhe confere vantagem estratégica. No entanto, sete desafios persistem: instabilidade política, limites de transmissão, falta de flexibilidade de rede, infraestrutura portuária insuficiente para offshore, ausência de embarcações e estaleiros especializados, escassez de mão de obra qualificada e baixa cooperação regional. Reformas industriais e integração regional são apontadas como essenciais para aproveitar a oportunidade “única em uma geração”. (Agência CanalEnergia – 24.11.2025)
IESR: Relatório aponta risco da dependência de combustíveis fósseis da Indonésia
O relatório “Indonesia Energy Transition Outlook 2026” do Instituto para Reformas dos Serviços Essenciais (IESR, na sigla em inglês) alerta que a Indonésia pode fracassar em sua transição energética caso mantenha sua dependência estrutural de combustíveis fósseis, apesar da meta oficial de alcançar 100% de renováveis nas próximas décadas. A análise mostra estagnação nos últimos nove anos. Diante disso, projeta-se que o país não cumprirá o objetivo de 23% de energia renovável em 2025, devendo atingir apenas 16%, enquanto a participação de renováveis na eletricidade caiu de 13% em 2020 para 11,5% em 2024. Para o IESR, essa lentidão decorre de três entraves: arcabouço regulatório incoerente, políticas fiscais que subsidiam combustíveis fósseis e fragmentação institucional. Esses obstáculos reduzem a atratividade dos investimentos em energia limpa e retardam tecnologias de baixo carbono, mesmo com estudos mostrando que sistemas solares e de baterias poderiam reduzir custos de geração entre 3% e 21%. O país também apresenta baixa prontidão para a transição em fatores como política, liderança e financiamento, agravada por subsídios fósseis que ultrapassaram Rp 1.023 trilhão entre 2022 e 2026 e por orçamentos estaduais ainda insignificantes, como o caso de Bali, que aproveita menos de 3% de seu vasto potencial solar. Diante desse cenário, o IESR recomenda ações urgentes: plano de eliminação dos fósseis, reformas institucionais, expansão solar e eólica, industrialização de baixo carbono, fortalecimento do financiamento climático e maior participação social para recuperar credibilidade e viabilizar uma transição energética efetiva. (Tanahair.net – 23.11.2025)
Índia: Programa de US$ 816 milhões para ampliar cadeia doméstica de terras raras
A Índia aprovou um programa de aproximadamente US$ 816 milhões para instalar capacidade doméstica de produção de ímãs permanentes de terras raras. A investida mira reduzir a dependência externa desses insumos críticos para veículos elétricos, turbinas eólicas, equipamentos aeroespaciais, tecnologias de defesa e sistemas de energia limpa. O país, que hoje importa 100% desses materiais e consumiu 53,7 mil toneladas no último ano fiscal, prevê que sua demanda dobrará até 2030. Segundo o governo, com novas plantas industriais, que têm capacidade para produção de 6 mil toneladas anuais, a dependência externa poderá cair praticamente a zero, fortalecendo a segurança tecnológica e as cadeias de suprimentos essenciais à transição energética. A capacidade será distribuída entre cinco empresas selecionadas em licitação internacional, cada uma podendo produzir até 1.200 toneladas por ano. O programa integra a estratégia indiana de ampliar autonomia industrial, reduzir vulnerabilidades geopolíticas e garantir insumos para a rápida expansão de veículos elétricos e renováveis no país. (Reuters – 26.11.2025)
Juniper Research: Estudo aponta potencial massivo de redução de emissões do setor de transportes
Segundo novo estudo da Juniper Research, soluções inteligentes de gerenciamento de tráfego podem reduzir até 923 milhões de toneladas de CO₂ até 2029, alta de 151% em relação à projeção anterior, equivalente a 1,5% das emissões globais previstas para 2030. Tecnologias avançadas, capazes de processar dados em tempo real, são consideradas essenciais, mas exigem cibersegurança escalável diante do crescente número de sensores e do volume de informações. A pesquisa destaca que ferramentas de anonimização de dados aumentarão a confiança pública e impulsionarão um mercado que deve saltar de US$ 14,8 bilhões em 2025 para US$ 32,7 bilhões em 2030. Outro estudo da Juniper indica que redes inteligentes podem economizar 1.060 TWh de energia ao ano até 2026. Mobilidade futura, apoiada por serviços inovadores, operadores de transporte e governos municipais, moldará as cidades inteligentes. O mercado global de mobilidade, que já movimentou US$ 140 bilhões na última década, pode triplicar até 2030. No Brasil, iniciativas como Rota 2030, Mover e projetos acadêmico-industriais reforçam a descarbonização e a eletrificação do transporte. (Além da Energia – 28.11.2025)
MSCI: Estudo avalia políticas, tecnologia e prontidão da Ásia-Pacífico na transição energética
O “Energy Transition Framework” da MSCI mostra que a Ásia-Pacífico, responsável por mais da metade das emissões globais de CO₂, pode exercer papel central na transição energética por abrigar algumas das empresas de tecnologia limpa que mais crescem no mundo. O estudo avalia a região a partir de três dimensões: política, tecnologia e prontidão corporativa. No campo regulatório, países como Coreia do Sul, Japão, Austrália e Nova Zelândia apresentam maior pressão de políticas climáticas, com metas robustas e mecanismos de precificação de carbono, enquanto Índia e Sudeste Asiático registram pressão significativamente menor. A maturidade tecnológica também diferencia setores: energias renováveis e veículos elétricos já estão em rápida expansão, especialmente na China, acelerando riscos de obsolescência para empresas tradicionais; enquanto indústrias pesadas como aço e petroquímica enfrentam transições mais complexas e caras, embora avanços em hidrogênio e captura de carbono possam reduzir essa distância. Ainda, a prontidão corporativa varia amplamente: empresas de Nova Zelândia, Singapura e Taiwan lideram em governança climática e gestão de riscos, enquanto Índia e Indonésia estão menos preparadas. Mesmo assim, companhias asiáticas já concentram grande parte das receitas globais de soluções de baixo carbono, como solar, eficiência energética, armazenamento e transporte limpo. O estudo conclui que a transição na região será desigual entre mercados e setores, e que a capacidade das empresas de antecipar mudanças regulatórias e tecnológicas definirá sua competitividade futura, tornando essencial que investidores avaliem sistematicamente riscos, oportunidades e grau de preparação corporativa. (MSCI – 24.11.2025)
Nacional
BNDES, OEI, MEMP e Sebrae lançam Empreender Clima para impulsionar economia verde
Durante a COP30, em Belém, foi lançada a plataforma digital Empreender Clima, criada por Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para apoiar micro e pequenas empresas na transição para modelos sustentáveis. A ferramenta funciona como hub de informação e crédito, permitindo financiamentos de até 100% de projetos verdes, com taxas a partir de 4,4% ao ano, além de pré-enquadramento no Fundo Clima em menos de dez minutos. Os financiamentos oferecem condições diferenciadas: prazos de até 25 anos e carência de 5 a 8 anos para iniciativas de logística verde, mobilidade, florestas e recursos hídricos, além de até 16 anos para projetos industriais e de energia limpa. Embora 75% das MPEs já adotem práticas sustentáveis, apenas 36,4% têm estratégia estruturada, revelando grande potencial de avanço. Além do crédito, o Empreender Clima promoverá capacitações, eventos e estudos, funcionando também como ferramenta de mapeamento do ecossistema sustentável e facilitando o acesso das empresas ao financiamento verde. (Agência CanalEnergia - 27.11.2025)
BNDES: Financiamento para o Grupo Solví visando ampliar energia solar e frota a biometano
O BNDES aprovou financiamento de R$ 432 milhões para a Loga, do Grupo Solví, no maior apoio já concedido pelo banco ao setor de gestão de resíduos sólidos. O projeto inclui a instalação de uma usina solar de 2,5 MW, a compra de 84 caminhões movidos a biometano e investimentos em coleta, transporte, tratamento e destinação de resíduos que atendem 7 milhões de pessoas na cidade de São Paulo. A Loga será responsável, pelos próximos 19 anos, pela coleta diária de 6 mil toneladas de resíduos e pela triagem de 3,1 mil toneladas mensais de materiais recicláveis. Parte dos recursos, R$ 180 milhões, integra a primeira operação do Eco Invest, estratégia do BNDES voltada à bioeconomia e finanças sustentáveis, combinando financiamento direto e debêntures incentivadas. O apoio também permitirá a implantação e modernização de unidades de transbordo, aquisição de equipamentos e expansão da infraestrutura operacional. Para o presidente Aloizio Mercadante, o projeto fortalece a economia circular e contribui para a descarbonização com uso de biometano e energia limpa. (Agência CanalEnergia – 24.11.2025)
COP30: Cúpula prova mecanismo de transição justa
Na plenária final da COP30, em Belém, foi aprovado com aplausos o mecanismo de transição justa que deverá ser detalhado até a COP31, na Turquia, reunindo e mapeando iniciativas voltadas à inclusão de trabalhadores e comunidades locais na transição energética. O texto reconhece direitos humanos, povos indígenas, populações afrodescendentes, equidade de gênero, educação e participação juvenil, incorporando demandas de movimentos sociais que defenderam o Belém Action Mechanism (BAM!). Apesar do avanço político simbólico, o mecanismo ainda levará ao menos dois anos para gerar ações concretas. A frustração veio da ausência total de menções explícitas a combustíveis fósseis nos 29 documentos aprovados, um retrocesso para quem esperava avanços no cumprimento do Consenso dos Emirados Árabes (COP28). Também ficaram de fora os minerais críticos: apesar de constarem em versões iniciais, foram excluídos após oposição da China, contrariando expectativas de países africanos. O tema, porém, reapareceu na declaração final do G20, que apoiou um marco voluntário para cadeias de minerais críticos sustentáveis. Em discurso, a ministra Marina Silva lamentou a limitação dos avanços e reforçou que superar a dependência fóssil e mobilizar recursos continua sendo tarefa urgente para enfrentar a crise climática. (Agência Eixos – 24.11.2025)
GESEL: Parceria com o Governo do RJ para projetos voltados à transição energética
O governo do estado do Rio de Janeiro firmou um memorando de entendimento (MOU) com o GESEL (Grupo de Estudos do Setor Elétrico) para estruturar projetos-piloto e ações de qualificação ligados à transição energética. A iniciativa, segundo o coordenador do GESEL e membro do CNPE, Professor Nivalde de Castro, busca reforçar vantagens competitivas já presentes no estado. Segundo Castro, “o estado do Rio de Janeiro possui a matriz energética mais diversificada do país”. Sua sinergia com a cadeia de petróleo e gás facilita a atração de investimento em eólica marítima, enquanto a presença de montadoras no estado tende a acelerar a eletrificação da frota. Com isso, a parceria mira o setor de data centers, área bastante visualizada pelo governo. Entre os projetos já colocados em análise, estão duas rotas de mobilidade elétrica: uma voltada ao turismo e outra conectando polos industriais no Vale do Paraíba. No caso dos data centers, o GESEL pretende auxiliar na construção de uma regulação estadual específica, apoiando tecnicamente na atração de investidores. Por fim, o acordo inclui ainda ações de formação, estudos técnicos e eventos. Acesse a matéria na íntegra aqui. (Agência CanalEnergia – 27.11.2025)
Petrobras: Organização da transição energética em quatro frentes estratégicas
A Petrobras ampliou sua estratégia de transição energética e passou a estruturar suas ações em quatro eixos principais, reforçando o tema como central em seu planejamento corporativo, segundo William Nozaki, gerente executivo de gestão integrada de transição energética. O primeiro eixo foca a descarbonização das operações em upstream e downstream, com metas específicas de redução de emissões. O segundo prioriza a expansão das fontes renováveis, incluindo projetos de eólica offshore, solar e a criação de um fundo de venture capital para impulsionar startups inovadoras. O terceiro concentra os investimentos em biocombustíveis e biorefino, com adaptação do parque de refino para ampliar a oferta de combustíveis de menor intensidade de carbono, como Diesel R, Bunker B24 e SAF, já certificado na Reduc. O quarto eixo envolve pesquisa, desenvolvimento e inovação, coordenados pelo Cenpes, que mantém mais de 80 projetos ativos. A companhia revisa seu plano estratégico e deve anunciar novas diretrizes em breve, reforçando o protagonismo da transição energética em sua agenda. (Agência CanalEnergia – 27.11.2025)
Petrobras: Investimentos de US$ 9 bi para gás natural e energias de baixo carbono até 2030
A Petrobras apresentou o Plano de Negócios 2026-2030, que prevê US$ 109 bilhões em investimentos, dos quais US$ 91 bilhões em projetos em implantação e US$ 18 bilhões em avaliação. A área de Gás Natural e Energias de Baixo Carbono terá US$ 9 bilhões, menos que no plano anterior (US$ 11 bilhões), embora a parcela para implantação tenha subido de US$ 3 bilhões para US$ 4 bilhões. Entre 2026 e 2030, os aportes anuais nessa área variam de US$ 1 bilhão a US$ 200 milhões. No gás natural, a estatal mantém nos planos as termelétricas do Complexo Boaventura (RJ), condicionadas ao Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) de 2026. Em renováveis, seguirá buscando parcerias em solar e eólica onshore, com projetos de hidrogênio, armazenamento, CCUS e venture capital ainda em avaliação. Em energias de baixo carbono, as prioridades serão etanol, biodiesel, biometano, diesel-R, combustível sustentável de aviação (SAF) e biobunker, com atuação preferencial em parcerias minoritárias ou de controle compartilhado. Além disso, a Petrobras reserva US$ 13 bilhões para a transição energética, incluindo baixo carbono, bioprodutos, descarbonização e P&D. (Agência CanalEnergia - 28.11.2025)
Eficiência Energética e Eletrificação de Usos Finais
BYD: Montadora alcança marca de 10 mil VEs fabricados na BA
A BYD atingiu a marca de 10 mil veículos produzidos em sua fábrica de Camaçari (BA) apenas um mês e meio após a inauguração oficial, consolidando o complexo, o maior da empresa fora da China, como peça-chave para o abastecimento nacional. A planta, que atualmente monta os modelos Dolphin Mini, King e Song Pro, iniciou também um segundo turno com 120 colaboradores, reforçando o ritmo acelerado de expansão industrial. A unidade tem capacidade inicial de 150 mil veículos por ano, com planos de dobrar esse volume e alcançar até 600 mil unidades anuais quando totalmente concluída. O presidente da BYD Auto do Brasil, Tyler Li, destacou que a marca já ultrapassou 100 mil BEVs emplacados no país em pouco mais de três anos, garantindo liderança absoluta entre os elétricos. Além da nova fábrica, a empresa mantém operações em Campinas e Manaus e amplia atuação em energia solar, armazenamento e mobilidade sobre trilhos. Durante o Salão do Automóvel, apresentou parte da linha nacional e modelos premium da Denza, reforçando sua estratégia de ampliar oferta e presença no mercado brasileiro. (Inside EVs – 26.11.2025)
COP30: Carta propõe que a América Latina lidere a eletrificação dos transportes
A “Carta de Belém pela Eletromobilidade”, apresentada durante a COP30, propõe que a América Latina assuma liderança global na transição energética ao adotar a eletrificação dos transportes como estratégia ambiental, econômica e social. O documento argumenta que a região vive um momento histórico singular, dispondo de recursos naturais, base industrial e capacidade tecnológica para desenvolver toda a cadeia da eletromobilidade — de ônibus e caminhões elétricos a baterias, motores e infraestrutura de recarga. A carta alerta, porém, que a crescente importação de produtos elétricos ameaça essa posição estratégica, exigindo ação coordenada entre governos latino-americanos por meio de políticas integradas, incentivos regionais e acordos em bloco para priorizar veículos elétricos produzidos localmente. Entre as vantagens listadas estão: redução de gases de efeito estufa, menor custo operacional e de manutenção, geração de empregos qualificados, fortalecimento industrial e melhoria da saúde pública — com estudos mostrando redução de mortalidade ao substituir ônibus a diesel por elétricos. A carta conclama governos e empresas a acelerar investimentos em infraestrutura elétrica, recarga e frota elétrica, sob risco de a região perder protagonismo em uma das cadeias globais de maior valor agregado da economia de baixo carbono. (Frota & Cia – 24.11.2025)
GAC: Início da produção de baterias sólidas para VEs
A GAC Group iniciou a operação da primeira linha industrial chinesa dedicada à produção de baterias de estado sólido em grande capacidade, avançando na fabricação de células automotivas acima de 60 Ah. A tecnologia promete praticamente dobrar a densidade energética em relação às baterias de íons de lítio convencionais, possibilitando que veículos com autonomia de 500 km ultrapassem 1.000 km por carga. As células utilizam eletrólitos sólidos com maior estabilidade térmica, capazes de operar entre 300 e 400 °C, o que representa um avanço significativo em segurança e desempenho. O processo produtivo incorpora ainda um método de anodo seco, que integra etapas de mistura, revestimento e prensagem, aumentando a eficiência fabril e reduzindo o consumo de energia. A GAC também explora o uso de anodo de silício esponja, material nanoestruturado que armazena mais íons do que o grafite e é apontado como elemento central para elevar a densidade energética das baterias de estado sólido. A expectativa é que a produção em massa seja alcançada entre 2027 e 2030. (Inside EVs - 26.11.2025)
VoltBras: Estudo apresenta o panorama das redes de recarga para VEs no Brasil
O Anuário VoltBras 2025 apresenta o primeiro mapeamento abrangente e comparativo das redes de recarga para veículos elétricos no Brasil, analisando modelos de operação, economia da recarga, estrutura de capital, maturidade tecnológica e experiência do usuário. O estudo reúne dados primários de 56 redes distribuídas por 25 estados e pelo Distrito Federal, totalizando 1.249 pontos de recarga AC e DC, e estabelece a primeira base pública de inteligência dedicada à infraestrutura de recarga, considerada crucial para a expansão da mobilidade elétrica no país. Os resultados destacam o descompasso entre o avanço da frota elétrica e a disponibilidade de eletropostos, apontado como o principal entrave à massificação dos veículos elétricos. O anuário evidencia que os carregadores AC ainda garantem a capilaridade urbana, enquanto os equipamentos DC, embora menos numerosos, começam a estruturar corredores de longa distância em rodovias estratégicas, sobretudo nas regiões Sudeste, Sul e partes do Nordeste. (Cenário Energia - 26.11.2025)
Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis
ABIHV: Associação apoia veto que mantém flexibilidade para autoprodução de energia
A Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV) manifestou posição favorável ao veto presidencial para a medida que pretendia restringir novos arranjos de autoprodução na reforma do setor. Inclusive, incluindo a modalidade por equiparação, à contratação de energia exclusivamente proveniente de novos empreendimentos de geração. Na mensagem de veto enviada ao Congresso Nacional, a entidade lembra que o Poder Executivo argumentou que a exigência proposta “poderia gerar ineficiência no sistema”. A ABIHV embasa essa visão, afirmando que a regra de adicionalidade prevista pela inclusão do artigo 2º da Lei nº 15.269/2025 seria uma barreira desnecessária à competitividade. Segundo a entidade, esse movimento restringiria as opções dos novos consumidores e, na prática, elevaria o custo da energia. Dessa forma, a análise é de que o veto preserva a racionalidade do regime de autoprodução. (Agência CanalEnergia - 28.11.2025)
BNDES: Aporte de R$ 85,8 milhões para desenvolvimento de biometano e CO2 biogênico
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou investimento de R$ 85,8 milhões na Bioo Investimentos Participações, adquirindo 20% de participação no capital da empresa. O aporte vai apoiar o desenvolvimento de duas novas Centrais de Tratamento Integrado de Resíduos (CTIR) em regiões com grande oferta de resíduos orgânicos e crescente demanda por energia renovável. A Bioo atua como plataforma de “biossoluções”, focada em tratar resíduos da agroindústria e convertê-los em biometano, CO2 biogênico e biofertilizantes. Segundo o BNDES, cada planta de biometano da Bioo poderá reduzir emissões em volume equivalente ao consumo energético anual de até 20 mil residências, contribuindo para uma transição ecológica justa ao dar destinação mais sustentável aos resíduos. A entrada da BNDESPAR, somada a um novo aporte da gestora Flying Rivers Capital, reforça a tese de negócio da Bioo e viabiliza a expansão do modelo para outras regiões do país, impulsionando o mercado de gases renováveis e de CO2 de origem biogênica. (Megawhat – 24.11.2025)
Brasil: STF confirma validade da Política Nacional de Biocombustíveis
O Supremo Tribunal Federal confirmou por unanimidade a constitucionalidade da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), reafirmando seu papel central na transição energética brasileira. A Lei 13.576/2017 estabelece metas anuais de descarbonização para distribuidores de combustíveis fósseis e utiliza os CBIOs como mecanismo de incentivo à produção e ao consumo de biocombustíveis sem subsídios públicos diretos. As ações que contestavam o programa alegavam tratamento desigual entre distribuidores de gasolina e diesel e produtores de biocombustíveis, mas o relator, ministro Nunes Marques, destacou que os setores ocupam posições distintas em relação às emissões de gases de efeito estufa — justificando regimes jurídicos diferentes. O STF também rejeitou o argumento de que os CBIOs representam custo indevido aos distribuidores, observando que o ônus é repassado ao consumidor final e funciona como estímulo econômico para a escolha de combustíveis de menor impacto ambiental. Ao validar o RenovaBio, o tribunal reconhece a legitimidade da política como instrumento eficaz de descarbonização, alinhado às metas climáticas do país e ao fortalecimento do mercado de biocombustíveis. (STF – 25.11.2025)
Eletronuclear: Adiamento do projeto de aproveitamento de hidrogênio nas usinas de Angra
Embora os estudos de viabilidade para produzir e aproveitar hidrogênio nas usinas de Angra já estejam concluídos, o projeto segue sem previsão de implantação devido à falta de decisão da diretoria da Eletronuclear. Segundo o engenheiro Nelri Leite, que coordenou a iniciativa até setembro de 2025, a prioridade atual da estatal é a extensão da vida útil de Angra 1 e a retomada das obras de Angra 3, foco considerado adequado frente aos desafios estruturais da empresa. Leite ressalta que o hidrogênio poderia atender demandas internas, como abastecimento de veículos e geradores, além de abrir portas para novos mercados, incluindo SAF e HVO. A entrada da Âmbar Energia como acionista pode acelerar decisões e destravar investimentos, especialmente após o BNDES confirmar que concluir Angra 3 é economicamente mais vantajoso do que interromper o projeto. Para ele, a retomada é crucial para reativar toda a cadeia nuclear brasileira, envolvendo INB, Nuclep, IEN e até o programa do submarino nuclear da Marinha. (Agência CanalEnergia – 25.11.2025)
EPE: Investimentos em refino e SAF devem reduzir dependência externa até 2035
Estudo do MME e da EPE, integrante do PDE 2035, aponta que investimentos em refinarias, biorrefinarias e na ampliação do uso de SAF reduzirão de forma significativa a dependência brasileira da nafta e do querosene de aviação (QAV) até 2035. Embora o país permaneça importador líquido de derivados de petróleo, o volume importado deve cair para 36 mil m³/d, menos da metade do pico histórico de 79 mil m³/d registrado em 2017. A queda será puxada pela redução de 11 mil m³/d nas importações de nafta, graças à estabilidade da demanda petroquímica e ao aumento de quase 80% da produção nacional na década, impulsionado pelo Complexo Boaventura e pela expansão da Refinaria Abreu e Lima. A produção de QAV também deve crescer de 16 mil para 19 mil m³/d, reduzindo a dependência externa de 18% para 4%, tendência reforçada pela estagnação do consumo e pela substituição crescente pelo SAF. O PDE 2035 projeta nove biorrefinarias capazes de produzir 1,7 bilhão de litros anuais de SAF a partir de 2030, chegando a 2,8 bilhões em 2035. (Agência Eixos – 28.11.2025)
Neoenergia e Honda: Parceria visando o uso do H2V na mobilidade do Brasil
A Neoenergia e a Honda anunciaram uma colaboração estratégica para impulsionar o desenvolvimento de iniciativas baseadas em hidrogênio verde voltadas à mobilidade urbana e ao transporte rodoviário no Brasil. A parceria será desenvolvida no primeiro posto de abastecimento com hidrogênio verde da Neoenergia, localizado em Brasília (DF). O projeto integra o Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI), regulado pela Aneel, com investimento superior a R$ 30 milhões. Pelo lado da Honda, a empresa contribuirá com a pesquisa de inovações, além de demonstrações tecnológicas e estudos de viabilidade. Enquanto, pelo lado de Neo, serão conduzidos testes e validações técnicas com o modelo CR-V e FCEV da Honda. A parceria visa desenvolver alternativas complementares para o processo de descarbonização do setor automobilístico. (Agência CanalEnergia - 28.11.2025)
Japão: Operação comercial da usina Sendai-ko reforça avanço da biomassa no país
A Sendai-ko Biomass Power GK iniciou a operação comercial de sua usina no Porto de Sendai, consolidando um dos maiores empreendimentos dedicados à biomassa no Japão. O complexo deve gerar cerca de 800.000 MWh por ano, quantidade suficiente para abastecer aproximadamente 260 mil residências e contribuir para o fornecimento estável de energia renovável à região de Tohoku, alinhando-se às metas nacionais de neutralidade de carbono. A planta utiliza combustíveis de biomassa de base florestal, como pellets e cavacos provenientes de desbaste, resíduos de serrarias e madeira de menor qualidade, todos adquiridos de florestas certificadas. A Sumitomo Corporation, responsável pela gestão do suprimento, garante o uso adequado dos recursos e a rastreabilidade completa da cadeia. A empresa busca atingir neutralidade de carbono até 2050 e já detém participação acionária equivalente a cerca de 2 GW em geração renovável. Sob a diretriz estratégica “Compass 2030”, o Tokyo Gas Group também reforça o compromisso com o net zero. Em 2025, a Sumitomo ampliou ainda mais sua atuação global ao firmar um acordo para investir £7,5 bilhões no Reino Unido até 2035. (Energy Monitor – 28.11.2025)
Recursos Energéticos Distribuídos e Digitalização
ABGD: Estudo aponta que cada R$ 1 em MMGD adiciona R$ 1,60 no PIB brasileiro
A Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) divulgou estudo técnico que evidencia o forte impacto econômico, ambiental e sistêmico da micro e minigeração distribuída (MMGD). O trabalho mostra que cada R$ 1 investido em MMGD gera R$ 1,60 no PIB e que a fonte solar é a maior geradora de empregos do setor. O levantamento destaca ainda o alto valor ambiental da redução de CO₂ quando se considera o Custo Social do Carbono, estimado entre US$ 100 e US$ 600 por tonelada evitada, e reforça que a GD entrega benefícios como redução de perdas, postergação de investimentos e aumento da resiliência elétrica. Em redes de média tensão, a MMGD pode reduzir perdas em até 3,7%, melhorar tensões e aliviar transformadores, com vantagens predominantes até 70% de penetração. O estudo aponta, ainda, que a GD evitará 60 milhões de tCO₂e até 2038 ao deslocar térmicas fósseis. Além disso, a integração de baterias e carregadores de veículos elétricos é vista como caminho essencial para modernizar as redes. Para a regulação, a ABGD defende modelos tarifários modernos com valoração locacional e temporal, além do reconhecimento dos serviços ancilares prestados pela MMGD. (Agência CanalEnergia - 25.11.2025)
Absae: Reforma setorial com a Lei 15.269 exige ajustes regulatórios
A Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (Absae) avaliou a sanção da Lei 15.269 como um avanço para a modernização do setor, mas alertou que ainda dependerá de ajustes regulatórios, sobretudo o dispositivo que responsabiliza apenas geradores pelo encargo de capacidade das baterias, ponto considerado conceitualmente equivocado por não refletir o caráter sistêmico da tecnologia. A entidade afirma que o tema é plenamente corrigível e não afeta a realização do futuro Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP), esperado pela indústria para o primeiro semestre de 2026. A associação destaca que o armazenamento foi consolidado como atividade regulada multipropósito, com avanços como o reforço ao seu papel no planejamento da transmissão, o mecanismo horário e a inclusão no regime especial de incentivos para o desenvolvimento de infraestrutura (Reidi), embora este apresente limitações por depender de previsão orçamentária anual. O único veto presidencial impediu proibir requisitos de conteúdo local no Reidi, preservando a possibilidade de políticas industriais alinhadas à transição energética. (Agência CanalEnergia - 26.11.2025)
Artigo de Fabiana Rodrigues da Fonseca: “Abordagens contratuais e perfis de receita para sistemas BESS”
Em artigo publicado pela Agência CanalEnergia, trata da Medida Provisória nº 1.304, que estabeleceu diretrizes para o armazenamento de energia no Brasil. A MP atribui à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a regulação e fiscalização do setor, abrangendo regras sobre remuneração, acesso à rede e incentivos fiscais, e define quatro níveis de armazenamento: parques centralizados, subestações de alta tensão, redes de baixa tensão e sistemas residenciais/comerciais. Segundo a autora, a proposta reconhece o papel estratégico das baterias (BESS) para a operação do sistema elétrico nacional e antecipa a realização, ainda em 2025, do primeiro leilão de capacidade com sistemas de armazenamento, conhecido como "leilão de baterias". Diante disso, o texto destaca modelos contratuais consolidados na Europa para orientar o desenvolvimento do setor no Brasil: o compartilhamento de receitas (merchant model), no qual o proprietário do BESS assume o risco de mercado e compartilha receitas com o otimizador; valor mínimo garantido (floor agrément), que assegura receita mínima ao proprietário com possibilidade de ganhos adicionais, podendo haver limite máximo; e tolling, onde o paga valor fixo para operar o BESS, assumindo o risco comercial, enquanto o proprietário segue responsável por custos técnicos e operacionais. O texto conclui que o conhecimento desses modelos e seus perfis de risco/retorno é fundamental para investidores e desenvolvedores, e que a nova legislação tende a aumentar a segurança jurídica, viabilizando contratos mais sofisticados no setor de armazenamento de energia no Brasil. (GESEL-IE-UFRJ – 27.11.2025)
AXIA Energia: Operação de alto desempenho para reforço da infraestrutura e demanda de IA
A Axia Energia iniciou operações de processamento de dados voltadas à mineração de bitcoin no Rio de Janeiro e na Bahia, como etapa preparatória para atuar no fornecimento de energia e na gestão de capacidade computacional para data centers e aplicações de Inteligência Artificial no Brasil. A empresa utiliza energia renovável para alimentar chips ASICs, escolhidos por demandarem menor investimento por MW do que processadores usados em IA, permitindo testar soluções representativas para o futuro com Capex reduzido. No Rio, a operação piloto funciona em pequena escala, enquanto na Bahia a Axia desenvolve um projeto de P&D em Casa Nova, integrando mais de 170 máquinas a um microgrid que combina parque eólico, planta solar e bateria, somando investimentos de R$ 90 milhões. O sistema, que simula cargas diversas e exige cerca de 1 MW para as máquinas de dados, testa a operação conjunta de geração renovável, armazenamento e processamento computacional, avaliando também o papel dessas cargas na estabilização do grid — tema central para o avanço de data centers, mineração e aplicações de IA no país. (Agência CanalEnergia - 21.11.2025)
AXIA Energia: Uso de drones e IA visando elevar confiabilidade no monitoramento de ativos
A AXIA Energia vem ampliando sua estratégia de digitalização ao adotar drones equipados com Inteligência Artificial e sensores avançados, como LiDAR, para aprimorar o monitoramento de seus ativos de geração e transmissão. A iniciativa fortalece a capacidade de identificar anomalias, antecipar falhas e reduzir riscos operacionais, especialmente em áreas de difícil acesso, além de permitir mapeamentos tridimensionais precisos e maior controle sobre fatores críticos, como o avanço da vegetação próximo às linhas de transmissão. No âmbito operacional, a empresa destaca o Projeto Inspetor, desenvolvido para integrar e automatizar a análise das diferentes frentes de inspeção, com foco inicial na detecção de corrosão em pinos de isoladores de vidro — um dos problemas mais relevantes para a confiabilidade da rede. A combinação de drones e IA, segundo a companhia, tem elevado substancialmente a precisão na coleta de dados e a eficiência das inspeções, tornando-se peça central na modernização das atividades de manutenção e na segurança dos ativos elétricos. (Cenário Energia - 27.11.2025)
CGU: Ministério alerta para impacto tarifário da MMGD
A Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que o modelo atual de incentivos à micro e minigeração distribuída (MMGD), responsável pela expansão da energia solar no país, tornou-se economicamente insustentável e socialmente regressivo. Embora reconheça os benefícios ambientais da geração distribuída, o órgão destaca que consumidores sem sistemas solares — especialmente os de baixa renda — vêm arcando com os custos dos descontos concedidos aos proprietários de painéis fotovoltaicos, revelando uma distorção estrutural já conhecida no setor, mas agora formalmente evidenciada. O problema central identificado é o subsídio cruzado decorrente do antigo modelo de compensação, que isentava a MMGD do pagamento de parcelas da TUSD/TUST e de encargos setoriais da CDE. Com o crescimento acelerado da geração distribuída, essa renúncia ganhou escala bilionária, podendo ultrapassar R$ 120 bilhões até 2030, valor repassado aos consumidores que continuam dependentes integralmente da rede. Assim, o incentivo, antes voltado ao desenvolvimento tecnológico, passou a representar uma transferência indireta de renda dos consumidores cativos para os autoprodutores solares. (Cenário Energia - 27.11.2025)
EDP: Inauguração de centro de predição com IA em SP
A EDP inaugurou um Centro de Predição e Performance para Geração Hídrica que utiliza digitalização e inteligência artificial para monitorar, em tempo real, milhões de eventos diários e mais de 300 mil variáveis internas e externas. Integrado ao Centro de Operação da Geração e Transmissão em São José dos Campos, o sistema atende usinas hidrelétricas do Tocantins, Mato Grosso e Pará, cruzando dados operacionais da empresa com informações de órgãos como INMET, ANA, CCEE e ONS para aumentar a eficiência, a confiabilidade e a precisão das decisões operacionais. O projeto, que recebeu investimento de cerca de R$ 15 milhões, foi implantado em três módulos progressivos: análise estatística de falhas com base em dados históricos; aplicação de regras definidas por especialistas processadas por IA; e, por fim, modelos capazes de identificar automaticamente anomalias e padrões sutis de degradação. A expectativa é reduzir falhas, custos e tempos de resposta, além de aprimorar a manutenção preventiva e elevar a sustentabilidade da operação das usinas. (IT Fórum - 25.11.2025)
Equatorial: Implementação de sistema digital de diagnóstico de equipamentos elétricos
O Grupo Equatorial Energia iniciou a adoção do sistema DianE, desenvolvido pelo Cepel, para digitalizar e aprimorar a gestão de ativos em suas sete distribuidoras. A ferramenta integra dados de diferentes equipamentos, como transformadores, reatores e disjuntores, reunindo informações de ensaios e monitoramento online em um ambiente centralizado. Essa abordagem permite diagnosticar degradações, acompanhar tendências e priorizar intervenções preventivas, reduzindo indisponibilidades e custos operacionais. O novo sistema também fortalece práticas de gestão baseadas em risco, alinhadas às exigências regulatórias e à busca por maior confiabilidade e eficiência no ciclo de vida dos ativos. Segundo a Equatorial, a solução representa um avanço estratégico para consolidar um Centro de Monitoramento de Ativos próprio, ampliando a autonomia tecnológica e a capacidade de planejamento preditivo, com impacto direto na segurança, continuidade e qualidade do fornecimento de energia. (Cenário Energia - 19.11.2025)
Redtrust: Digitalização impulsiona modernização e segurança no SEB
O SEB vive forte expansão, com mais de 24 mil usinas e potência superior a 210 GW, além de uma matriz majoritariamente renovável, que representa 88% da geração e coloca o país entre os líderes globais em energia eólica e solar. Segundo especialistas da Redtrust, esse avanço é acompanhado por uma transformação digital que torna operações mais ágeis, seguras e transparentes, do fornecimento à comercialização. Certificados digitais têm papel central ao garantir autenticidade, integridade e validade jurídica de documentos e transações, essenciais em um mercado regulado e complexo. A integração com órgãos como CCEE e ANEEL exige autenticação confiável, ampliando a necessidade de gestão eficiente de identidades e certificados. Plataformas de gerenciamento centralizado ajudam a monitorar usos, evitar expiração, definir políticas de acesso e reduzir riscos de segurança, fortalecendo a governança digital. Com a crescente adoção de renováveis e smart grids, a infraestrutura digital segura torna-se indispensável à evolução do setor. (Valor Econômico - 24.11.2025)
Impactos Socioeconômicos
Artigo de Deyvid Bacelar: “O petróleo no nosso dia a dia em tempos de transição energética”
Em artigo publicado no Brasil 247, Deyvid Bacelar (coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros [FUP]) discute a importância de diferenciar a extração de petróleo da queima de combustíveis fósseis no contexto da transição energética. Enquanto a queima de combustíveis é a principal causa do aquecimento global, a extração de petróleo permanece essencial como matéria-prima para inúmeros produtos indispensáveis à vida moderna — como plásticos, medicamentos, eletrônicos e fertilizantes — para os quais ainda não há alternativas viáveis em escala. Assim, o autor pontua que defender a eliminação da queima de combustíveis fósseis não implica parar imediatamente a produção de petróleo, mas sim descarbonizar seu uso energético. O texto também argumenta que a renda gerada pelo setor de petróleo e gás pode e deve ser usada para financiar uma transição energética justa, por meio de fundos soberanos voltados ao desenvolvimento sustentável e à redução de desigualdades sociais e regionais. A conclusão é que uma transição responsável deve combinar a redução urgente das emissões com a continuidade regulada da extração, visando equilíbrio entre metas climáticas e necessidades industriais e sociais. (Brasil 247 – 24.11.2025)
Artigo de María Mendiluce: “COP30 fez o mundo caminhar rumo à transição energética. Empresas querem correr”
Em artigo publicado pelo Reuters, María Mendiluce (CEO da We Mean Business Coalition) avalia criticamente os resultados da COP30, realizada em Belém, destacando que, embora o encontro tenha mantido a tradição das conferências da ONU em buscar consensos diplomáticos, ele deixou evidente um descompasso crescente entre a dinâmica econômica real, que já avança na transição energética, e o ritmo lento das negociações multilaterais. A autora pontua que a estrutura do processo da COP — onde nada é acordado até que tudo seja acordado — limita avanços concretos, especialmente quando interesses divergentes sobre financiamento, comércio e adaptação entram em conflito. Apesar disso, o texto ressalta avanços importantes: o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), a criação do Fórum Integrado sobre Mudança do Clima e Comércio, e os roadmaps propostos pelo Brasil sobre fósseis e desmatamento, que acenam para uma mudança de foco: do debate sobre “o que fazer” para a busca de soluções sobre “como fazer” a transição energética. A COP também propôs a triplicação do financiamento para adaptação até 2035, embora sem base clara ou plano de implementação, o que gera incertezas para países vulneráveis e empresas. Além disso, destaca que a criação de um Acelerador Global de Implementação é vista como promissora, desde que tenha métricas claras, engajamento técnico real e apoio político contínuo. (Reuters – 26.11.2025)
CEERT: Estudo revela disparidades raciais e de gênero nos empregos ligados à transição energética
Um estudo do CEERT divulgado na COP30 revela profundas desigualdades raciais e de gênero nos empregos ligados à transição energética, mostrando que o avanço das energias renováveis não tem sido acompanhado por inclusão social. Foram mais de 440 organizações analisadas. Segundo o levantamento, mulheres negras representam apenas 7% dos vínculos formais em biomassa, eólica e solar, índice que cai para 6,2% na geração hídrica, enquanto trabalhadores brancos têm presença muito superior em todos os segmentos. As disparidades salariais também são marcantes: na energia renovável, 32,3% dos homens brancos ganham acima de cinco salários mínimos, contra apenas 7,4% das mulheres negras; no setor fóssil e nuclear, essa diferença é ainda maior. Embora pessoas negras representem 56% da população brasileira, sua participação nos empregos energéticos permanece muito abaixo desse patamar, especialmente na geração hídrica, onde chegam a apenas 31,2%. O setor segue majoritariamente masculino, mesmo em áreas estratégicas da economia verde. Para o CEERT, a transição energética só será verdadeiramente justa se integrar políticas de inclusão racial e de equidade de gênero, ampliando o acesso da juventude negra aos empregos verdes e garantindo que a economia carbono-neutra não reproduza exclusões históricas. (Estadão – 27.11.2025)
FGV: Estudo defende que soluções tropicais de baixo carbono sejam reconhecidas na transição energética
O Observatório da Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) lançou o estudo “Bioenergia Tropical e os Dilemas da Transição Energética: neutralidade tecnológica e valorização global das soluções nacionais”, que defende que a transição energética global precisa reconhecer soluções tropicais de baixo carbono, argumentando que políticas internacionais têm criado distorções que favorecem certas tecnologias em detrimento de alternativas mais eficazes para reduzir emissões, como bioenergia e biocombustíveis. O relatório demonstra, por meio de Análise de Ciclo de Vida, que veículos brasileiros movidos a etanol, inclusive híbridos, apresentam emissões significativamente menores do que veículos elétricos ou a combustão vendidos na Europa, Estados Unidos e China, evidenciando a alta eficiência climática das rotas tropicais. O estudo critica barreiras regulatórias como fatores genéricos de mudança indireta de uso da terra e regras da UE e dos EUA que desvalorizam biocombustíveis sustentáveis, ignorando especificidades produtivas como etanol de segunda safra e recuperação de pastagens degradadas. A FGV recomenda adoção de neutralidade tecnológica nas políticas globais, reconhecimento objetivo do desempenho real de emissões e integração de bioenergia com eletrificação como estratégia complementar de mobilidade limpa. Para o Brasil, aponta a necessidade de fortalecer programas como RenovaBio, SAF e biogás, além de intensificar a diplomacia climática do Sul Global para harmonizar critérios internacionais e consolidar a bioenergia como solução legítima de descarbonização. O estudo conclui que a transição energética será só justa e efetiva se valorizar a diversidade de caminhos e mensurar o impacto climático de forma transparente e comparável, reconhecendo que países tropicais já entregam resultados relevantes. (Portal FGV – 26.11.2025)
Eventos
Artigo de Liszt Vieira: “COP30: Nem mapa, nem caminho”
Em artigo publicado no Outras Palavras, Liszt Vieira (professor universitário, sociólogo e político brasileiro ligado ao movimento ambientalista) critica a falta de avanços concretos da COP30, realizada em Belém, especialmente em relação aos três principais desafios climáticos: eliminação dos combustíveis fósseis, redução do desmatamento e financiamento para adaptação dos países mais vulneráveis. O autor pontua que, embora cerca de 80 países tenham apoiado a criação de um “mapa do caminho” para o fim dos fósseis, o tema foi bloqueado por países produtores, como a Arábia Saudita. A Declaração Final omitiu menções diretas aos combustíveis fósseis e ao desmatamento, o que, segundo cientistas e entidades como o Greenpeace, representa uma traição à ciência e à urgência climática. O texto aponta contradições do próprio governo brasileiro, que na COP defende o fim da exploração de fósseis, mas promove a ampliação de blocos de petróleo na margem equatorial. Apesar de alguns avanços simbólicos, como o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre e o reconhecimento de povos indígenas e de origem africana, o artigo conclui que a COP30 repetiu o padrão diplomático frustrante das anteriores, mascarando o fracasso diante da gravidade da crise climática e da ausência de compromissos vinculantes. (Outras Palavras – 24.11.2025)
BNDES: Seminário com especialistas debate desafios e conquistas da COP30
Especialistas reunidos no seminário “Clima e Desenvolvimento Sustentável”, organizado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e DCM com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), defenderam que a descarbonização total da economia global é indispensável para evitar o colapso climático. Ricardo Abramovay destacou que as emissões estão altamente concentradas: cinco países e 56 empresas respondem por dois terços dos gases de efeito estufa. Além disso, pontuou que grandes corporações, embora eficientes na difusão tecnológica, nem sempre inovam na velocidade necessária. Camila Gramkow (Cepal) enfatizou a urgência de uma transição energética justa, alertando que eventos extremos agravam desigualdades, prejudicam economias frágeis e tensionam instituições. Alexandre Coelho (FESPSP) apontou o potencial do Brasil, que possui matriz elétrica limpa, liderança em biocombustíveis e grandes reservas de terras raras, mas cuja maior fonte de emissões está no desmatamento e na pecuária. Representando o BNDES, Gabriel Aidar afirmou que apenas o mercado não promoverá a transição e destacou investimentos previstos de R$ 50 bilhões no Fundo Clima e R$ 7 bilhões em reflorestamento. Os especialistas notaram contradições estruturais: apesar da expansão das renováveis, investimentos em fósseis dobraram, impulsionados por EUA, Rússia e Brasil. Mesmo sem consenso na COP30 sobre o abandono dos combustíveis fósseis, os participantes reforçaram que essa mudança é inevitável e que o custo da inação climática pode ser devastador para o PIB global. (Diario do Centro do Mundo – 25.11.2025)
G20: Cúpula na África do Sul destaca crise de acesso à energia no continente africano
A declaração final dos líderes do G20, realizada este ano em Joanesburgo, na África do Sul, reafirmou a importância de apoiar os países em desenvolvimento na transição energética. O documento diz que o grupo de países vai atuar para facilitar o financiamento a baixo custo, inclusive por meio de financiamento concessional e inovador, além de mecanismos de financiamento misto, instrumentos de mitigação de riscos e apoio tecnológico. O texto reconhece as profundas desigualdades globais no acesso à energia, em especial no continente africano, onde estima-se que um bilhão de pessoas não tenham acesso a combustíveis limpos para cozinhar e mais de 600 milhões não possuam acesso à eletricidade. Diante desse cenário, os membros do grupo assumiram um compromisso voluntário para a consolidação da de um ambiente político favorável para a solução desse gargalo continental. Além disso, o comunicado também aborda outras questões, como a expansão do movimento de transição e a elevação da demanda por minerais críticos, que se destacaram dentro do plano. (Agência CanalEnergia - 24.11.2025)