Transição Energética 92
Dinâmica Internacional
Europa: Apple investirá em parques solares e eólicos para alcançar neutralidade de carbono até 2030
A Apple anunciou planos para desenvolver 650 MW em projetos solares e eólicos em países como Grécia, Itália, Letônia, Polônia e Romênia, ampliando suas iniciativas de energia renovável no continente. A medida faz parte da meta “Apple 2030”, que visa tornar a empresa neutra em carbono até o fim da década. Até 2030, os novos projetos devem gerar mais de 1 milhão de MWh de eletricidade limpa por ano e contribuir com cerca de 3.000 GWh para as redes europeias, reduzindo as emissões associadas ao uso de seus dispositivos, que representam 29% do total da companhia. Os investimentos devem ultrapassar US$ 600 milhões e incluem contratos de longo prazo com projetos de grande porte, como um parque solar de 110 MW na Grécia e um parque eólico de 99 MW na Romênia. A Apple e seus fornecedores também estão comprometidos com 19 GW de energia renovável para abastecer operações e cadeias produtivas globais. A iniciativa reforça o papel da empresa na transição energética e no fortalecimento da segurança elétrica europeia. (Energy Monitor – 14.10.2025)
IMO: Consolidação de diretrizes é fundamental para a sustentabilidade dos custos da transição energética no setor marítimo
O secretário-geral da Organização Marítima Internacional (IMO), Arsenio Dominguez, afirmou que, embora o Marco de Emissões Zero (Net Zero Framework – NZF) “não seja perfeito”, ele é essencial para evitar a fragmentação regulatória global e o aumento dos custos da transição energética no setor marítimo. Durante a reunião extraordinária do Comitê de Proteção ao Meio Ambiente Marinho (MEPC), Dominguez reconheceu críticas divergentes:alguns acreditam que o NZF não é ambiciosa o bastante, outros intuem que ele irá onerar excessivamente a indústria. As posições conflitantes também estão inscritas no receio da falta de combustíveis alternativos e na defesa que a regulação global estimula a oferta. Também há preocupações quanto ao apoio a países em desenvolvimento e a incentivos para pioneiros na adoção de tecnologias limpas. Apesar de tensões crescentes, especialmente com os Estados Unidos ameaçando sanções a países que apoiam o NZF, Dominguez defendeu o caminho diplomático e ressaltou que o marco é uma solução equilibrada, sem restringir tecnologias ou combustíveis, com entrada em vigor prevista para 2027. Ele alertou que, sem um regulador global como a IMO, a transição energética se tornará mais cara, com múltiplas regulações regionais e ineficiência na cobrança de emissões. A adoção do NZF depende da aprovação de dois terços dos Estados-membros até a reunião extraordinária marcada para 17 de outubro. (Seatrade Maritime - 14.10.2025)
Índia: BEI Global investe US$ 60 milhões em fundo pioneiro para acelerar transição energética
O BEI Global, braço de desenvolvimento do Banco Europeu de Investimento, anunciou um aporte de até US$ 60 milhões no Fundo de Transição Energética da Índia, o primeiro do país administrado por um gestor doméstico. Gerido pela EAAA Alternatives, o fundo busca levantar US$ 300 milhões até o final de 2025 para financiar projetos de energia renovável, eficiência energética e VEs, além de setores ligados à economia circular, como reciclagem e tratamento de efluentes. A EAAA pretende investir cerca de US$ 4,52 bilhões nos próximos cinco anos, com meta de desenvolver aproximadamente 8 GW de capacidade limpa. A iniciativa também deve impulsionar intercâmbio tecnológico e atrair capital privado, apoiando a meta indiana de dobrar a geração não fóssil para 500 GW até 2030. Para o BEI, o investimento fortalece a cooperação estratégica com a Índia, acelera a descarbonização, amplia a segurança e a acessibilidade energética e contribui para preços mais baixos, consolidando o país como parceiro-chave na transição verde global. (Energy Monitor – 15.10.2025)
Índia: Lançamento de plano de US$ 77 bilhões para potencial hidrelétrico
A Índia lançou um ambicioso plano de US$ 77 bilhões para escoar mais de 76 GW de capacidade de energia hidrelétrica da bacia do rio Brahmaputra até 2047, visando atender à crescente demanda elétrica e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. O projeto, anunciado pela Autoridade Central de Eletricidade (CEA, na sigla em inglês), abrange 208 grandes usinas em 12 sub-bacias no nordeste do país, com 64,9 GW de capacidade potencial e 11,1 GW adicionais via armazenamento por bombeamento. Arunachal Pradesh, na fronteira com a China, concentra 52,2 GW desse potencial. A bacia é considerada estratégica por sua localização transfronteiriça, já que o Brahmaputra nasce no Tibete (China) e há preocupações indianas de que uma grande barragem chinesa possa reduzir em até 85% o fluxo de água na estação seca. O plano da Índia será executado em duas fases: a primeira, até 2035, com investimento de 1,91 trilhão de rúpias; e a segunda, com 4,52 trilhões de rúpias. A meta está alinhada ao objetivo nacional de atingir 500 GW de capacidade não fóssil até 2030 e emissões líquidas zero até 2070. (Reuters - 13.10.2025)
IRENA: Avanço das renováveis é insuficiente para metas globais até 2030
O mundo ainda está distante de cumprir as metas globais de energia renovável e eficiência energética, apesar do avanço registrado em 2024. A constatação está em um novo relatório divulgado nesta terça-feira (8) pela Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), pela Presidência Brasileira da COP30 e pela Aliança Global de Renováveis (GRA), durante um evento de alto nível pré-COP30 em Brasília. No ano passado, a capacidade global de energias renováveis cresceu 582 gigawatts (GW), o maior aumento já registrado. Mesmo assim, segundo a IRENA, o ritmo é insuficiente para alcançar a meta firmada na COP28, em Dubai, de triplicar a capacidade instalada para 11,2 terawatts (TW) até 2030. Segundo o relatório, atingir esse objetivo exigirá a adição de 1.122 GW por ano a partir de 2025, o que representa uma taxa média de crescimento anual de 16,6% até o fim da década. O novo relatório, chamado “Cumprindo o Consenso dos Emirados Árabes Unidos: Acompanhamento do progresso para triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030“, também aponta que o desempenho global em eficiência energética continua abaixo do necessário. A intensidade energética mundial aumentou apenas 1% em 2024, muito aquém dos 4% anuais previstos para manter o limite de aquecimento global em 1,5°C. (Petronotícias - 15.10.2025)
Malásia: Construção do maior projeto solar do país
A Malakoff Corporation nomeou a Solarvest como empreiteira responsável pela engenharia, aquisição, construção e comissionamento (EPCC) do projeto solar LSS Petra 5+, de 470 MW, localizado em Larut e Matang, Perak Darul Ridzuan, na Malásia. Com produção estimada de 967.544 MWh anuais de eletricidade limpa e compensação de cerca de 748.879 toneladas de CO₂ por ano, a iniciativa representa um marco no fortalecimento da segurança energética nacional e na geração de empregos qualificados. O CEO da Malakoff destacou que o projeto, o maior do país no âmbito do programa LSS PETRA 5+, será essencial para a transição energética e para ampliar o portfólio de energias renováveis da empresa, atualmente em 768 MW. A Solarvest, por sua vez, reforçou seu compromisso com a inovação e a excelência técnica, alinhando o projeto ao Roteiro Nacional de Transição Energética, que busca alcançar 70% de energia renovável até 2050. A parceria entre as empresas posiciona a Malásia como um importante polo regional de energia limpa e contribui para suas metas de neutralidade de carbono. (Energy Monitor – 17.10.2025)
Vietnã: União Europeia oferece pacote de US$ 500 milhões para apoiar a transição energética justa no país
A União Europeia anunciou um pacote de €430 milhões (cerca de US$ 500 milhões) para impulsionar a transição energética justa no Vietnã, com foco no projeto de armazenamento hidrelétrico por bombeamento de Bac Ai. Este projeto é uma peça-chave da Parceria para a Transição Energética Justa (JETP) no país, liderada pela UE e Reino Unido, e visa aumentar a estabilidade da rede elétrica e facilitar a integração de energias renováveis em larga escala. O investimento, apresentado durante o Global Gateway Forum na Bélgica, reflete o compromisso europeu com o desenvolvimento sustentável, mobilizando recursos públicos e privados por meio da estratégia Global Gateway. A iniciativa reúne instituições financeiras de desenvolvimento da França, Alemanha, Itália e União Europeia, e pretende atrair investimentos sustentáveis, fomentar o crescimento e preservar o meio ambiente. Até 2027, o apoio europeu ao Vietnã em sustentabilidade energética deverá superar €3 bilhões, incluindo conexões com a rede elétrica do Sudeste Asiático. O Global Gateway, por sua vez, busca mobilizar até €300 bilhões globalmente, priorizando infraestrutura verde e inclusiva. (Vietnam Investment Review - 11.10.2025)
Nacional
Artigo GESEL: “Curtailments da geração renovável no Brasil”
Em artigo publicado pelo Broadcast Energia, Nivalde de Castro (Professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador-geral do GESEL/UFRJ) e Roberto Brandão (diretor científico do GESEL/UFRJ) analisam o avanço dos curtailments da geração renovável no Brasil. Impulsionada por políticas de incentivo e pela expansão acelerada da eólica e solar — que já representam 28,8% da matriz elétrica —, a transição energética brasileira enfrenta crescentes restrições operacionais e cortes de geração por confiabilidade e excesso de oferta. Em 2025, os curtailments médios atingiram 36,4% da energia solar e 24,1% da eólica, sem previsão de compensação regulatória aos geradores. Os autores destacam a necessidade urgente de ajustes regulatórios para equilibrar os impactos entre geração centralizada e distribuída e de investimentos em armazenamento de energia, condição essencial para garantir flexibilidade, confiabilidade e sustentabilidade na expansão do Setor Elétrico Brasileiro. Acesse o texto na íntegra aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 14.10.2025)
Artigo de André Lavor: “Do debate à ação: como o biodiesel pode consolidar o protagonismo do Brasil na transição energética”
Em artigo publicado na Agência Eixos, André Lavor (CEO e cofundador da Binatural) argumenta que o biodiesel pode consolidar o protagonismo do Brasil na transição energética global, enfatizando a evolução do debate climático internacional – como visto na Climate Week NYC – do discurso à execução. O autor argumenta que o Brasil, com sua matriz energética limpa e capacidade industrial, já é referência e pode ser peça-chave especialmente no setor marítimo, que busca forte descarbonização. Ele destaca que o biodiesel brasileiro, produzido a partir de resíduos e culturas regionais, gera energia renovável, empregos e desenvolvimento territorial, valorizando biomas locais. Ainda, pondera que a transição energética exige abandonar a falsa equivalência entre biocombustíveis e fósseis, devendo ser assumido que se tratam de produtos distintos com impactos distintos. Por fim, conclui que o Brasil tem a solução, os recursos e o know-how para liderar, mas precisa transformar reconhecimento internacional em ações concretas e alianças estratégicas, colocando o biodiesel no centro de uma agenda técnica, econômica e urgente. (Agência Eixos - 13.10.2025)
Artigo de Jerson Kelman: "O Congresso Nacional e a reforma do setor elétrico"
Em artigo publicado pela Folha de São Paulo, Jerson Kelman (ex-professor da Coppe-UFRJ) trata dos riscos de colapso do setor elétrico brasileiro caso não haja uma reforma estrutural que reduza a influência política e os subsídios desnecessários que comprometem sua sustentabilidade. Ele argumenta que o problema não é técnico, mas político, e que a solução exige um pacto que devolva à Aneel a autonomia regulatória e enfraqueça a atuação de lobbies no Congresso. Para isso, propõe dez medidas, como a eliminação de incentivos ineficazes, a cobrança justa de custos de conexão, a revisão de benefícios da geração distribuída, a adoção de leilões por atributos, a criação de tarifas específicas para grandes consumidores e a seleção técnica dos diretores da agência reguladora. Kelman defende que parlamentares e eleitores se informem melhor sobre o tema para que decisões políticas futuras estejam alinhadas ao interesse público. (GESEL-IE-UFRJ – 16.10.2025)
FGV CERI: Especialista propõe agenda mínima para destravar desafios do setor elétrico e integrar fontes renováveis
A crescente participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira exige mudanças estruturais no setor elétrico, segundo Joisa Dutra, diretora do FGV CERI e ex-diretora da ANEEL. Ela defende uma “agenda mínima” com medidas pragmáticas, como regras claras de curtailment (restrição de geração) e compensação, métricas públicas de indisponibilidade e partilha justa de riscos. Também propõe um marco legal que agilize o uso de armazenamento de energia, tanto em baterias quanto em hidrelétricas reversíveis, e a adoção de sinais locacionais, que ajustam tarifas conforme custos de transmissão e podem atrair grandes consumidores, como data centers, para regiões com abundância de energia renovável. Joisa alerta para o descompasso entre a rápida expansão da geração solar e eólica e a lenta expansão das redes, o que leva a cortes de até 40% da produção planejada e volatilidade de preços. Para ela, compensações financeiras são paliativas, e a solução definitiva está na modernização e ampliação da infraestrutura de transmissão, essencial para uma transição energética eficiente. (Além da Energia– 15.10.2025)
USP: Lançamento de registradora nacional de créditos de carbono
A Universidade de São Paulo (USP), por meio do Centro de Pesquisa em Gases de Efeito Estufa (RCGI), criou a RCGI-USP Carbon Registry, a primeira registradora nacional de créditos de carbono ligada a uma universidade pública. A iniciativa busca fortalecer a credibilidade dos créditos brasileiros, reduzir custos e prazos, com análises em até 90 dias, contra até 12 meses no exterior, e oferecer metodologias adaptadas aos biomas e à realidade industrial do país. A plataforma garante transparência, rastreabilidade e integridade ambiental ao validar, emitir e acompanhar créditos, além de seguir padrões internacionais como os da UNFCCC. Seu modelo inclui suporte a empresas de todos os portes na elaboração de inventários de emissões e destina parte dos créditos a projetos científicos e sociais por meio do sistema CCB-SS. Operada por uma startup derivada da USP e supervisionada por um comitê técnico independente, a registradora alia neutralidade acadêmica e rigor científico, posicionando o Brasil com maior protagonismo no mercado global de carbono e impulsionando a transição para uma economia de baixo carbono. (Agência CanalEnergia – 16.10.2025)
Curso GESEL “Gás Natural e seu futuro na atual transição energética”
O curso “Gás Natural e seu Futuro na Atual Transição Energética” apresenta os fundamentos técnicos, econômicos e regulatórios do setor de gás natural, destacando sua relevância na matriz energética brasileira. Com foco em seus múltiplos usos — da geração elétrica ao setor industrial, transporte e produção de hidrogênio azul —, o programa também aborda biogás, biometano e os desafios regulatórios da Nova Lei do Gás. Além disso, discute as políticas públicas e as perspectivas do setor no processo de descarbonização. O conteúdo está organizado em seis aulas, que percorrem desde os conceitos básicos e a cadeia produtiva até as aplicações práticas, o papel do gás natural no Brasil e as oportunidades de inovação. Ao final, os participantes terão uma visão ampla sobre a inserção do gás natural e de seus derivados no contexto da transição energética. Serão 6 aulas de 2 horas cada, sempre às segundas e quartas-feiras, das 19 às 21h. Carga horária total de 12 horas. O início do curso está previsto para o dia 17 de novembro. Inscreva-se aqui: https://forms.gle/TdGJj5Epiw8XTHzn9 (GESEL-IE-UFRJ – 17.10.2025)
Eficiência Energética e Eletrificação de Usos Finais
Artigo de Victor Ribeiro: Os desafios para o avanço da mobilidade elétrica pública no Brasil
Em artigo publicado pela Agência Eixos, Victor Ribeiro(consultor estratégico na Thymos Energia ) trata da importância estratégica da mobilidade elétrica pública para a transição do transporte coletivo urbano rumo à sustentabilidade, destacando os ônibus elétricos como protagonistas dessa mudança por reduzirem emissões e ruído, aumentarem a eficiência e contribuírem para metas climáticas. Apesar do avanço de países como China e Alemanha, o Brasil ainda depende de iniciativas locais e enfrenta barreiras como o alto custo inicial, falta de infraestrutura de recarga adequada, ausência de política industrial estruturada e dependência de baterias importadas. O país, no entanto, tem grande potencial de expansão, com a possibilidade de substituir até 14 mil ônibus a diesel até 2030, evitando a emissão de 437,7 mil toneladas de CO₂ ao ano. Para isso, serão essenciais soluções financeiras inovadoras, regulação adequada, investimentos em recarga e capacitação profissional. Com tecnologia mais acessível e políticas coordenadas, a eletromobilidade pode transformar o transporte coletivo brasileiro em um modelo eficiente, limpo e alinhado à agenda climática global. (Agência Eixos – 15.10.2025)
BYD: Construção de centro de P&D no RJ
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, revelou em suas redes sociais a instalação de um centro de pesquisa e desenvolvimento da montadora chinesa de carros elétricos BYD na cidade. O novo centro terá como principais áreas de estudo a direção autônoma e combustíveis flexíveis. O presidente internacional da BYD, Wang Chuanfu, afirmou que a decisão de estabelecer o centro no Rio foi motivada pelo convencimento do prefeito e o local escolhido será um terreno no Aeroporto Internacional Tom Jobim. O investimento para esse projeto é totalmente privado. Recentemente, a BYD inaugurou sua primeira fábrica de carros elétricos em Camaçari, Bahia, com um investimento de R$ 5,5 bilhões. Essa iniciativa demonstra o compromisso da empresa em expandir suas operações no Brasil e investir em tecnologias sustentáveis. A chegada do centro de pesquisa e desenvolvimento no Rio de Janeiro não só trará avanços significativos para a indústria de carros elétricos no país, mas também fortalecerá a posição do Brasil como um importante mercado para veículos elétricos. Essa parceria entre a BYD e o governo do Rio de Janeiro representa uma oportunidade única para impulsionar a inovação e a sustentabilidade no setor automotivo. A escolha estratégica do local, próximo a um importante centro de transporte como o Aeroporto Internacional Tom Jobim, ressalta o potencial de crescimento e desenvolvimento da indústria de veículos elétricos na região. Com a instalação desse centro, espera-se que novas tecnologias e soluções inovadoras sejam desenvolvidas, contribuindo para a transição para uma mobilidade mais limpa e eficiente no Brasil. (BroadcastEnergia - 15.10.2025)
EPE: Consumo de energia de VEs cresce 20 vezes no Brasil
O crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil tem impactado de forma significativa o consumo de eletricidade no transporte rodoviário. Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2025, publicado pela EPE em parceria com o MME, o consumo passou de 14 GWh em 2020 para 309 GWh em 2024, impulsionado pelo aumento do número de veículos plug-in licenciados, que saltou de cerca de 1,9 mil para mais de 215 mil unidades no mesmo período. Os automóveis respondem por mais de 90% dessa frota, seguidos por comerciais leves, ônibus e caminhões. Esta edição do BEN é a primeira a contabilizar oficialmente o consumo de eletricidade do transporte rodoviário na matriz energética nacional, evidenciando o peso crescente da mobilidade elétrica. O relatório atribui o aumento à maior disponibilidade de modelos eletrificados, redução de preços e ampliação da autonomia dos veículos. Em 2024, o consumo total de energia do transporte cresceu 2,7%, com a renovabilidade do setor atingindo 25,7%, apoiada pelo uso ampliado de biodiesel (+19,3%) e etanol hidratado (+30,1%). (Inside EVs - 15.10.2025)
GWM: Ampliação de operação na Europa
A Great Wall Motor (GWM) avança em sua estratégia global de expansão com foco na Europa, após consolidar presença industrial no Brasil. A montadora chinesa pretende lançar nove novos modelos até 2027, iniciando sua ofensiva europeia em 2026, com destaque para os SUVs HAVAL, que chegam pela primeira vez ao continente, e para os modelos elétricos da marca ORA e de luxo da linha WEY, como o Wey 07. O objetivo é posicionar-se como referência em SUVs, híbridos e elétricos, fortalecendo sua presença em mercados estratégicos. A empresa adotará uma abordagem multitecnológica, oferecendo veículos a combustão, híbridos, híbridos plug-in e 100% elétricos, alinhados ao conceito “All scenarios, all powertrains”, voltado à versatilidade e adaptação a diferentes perfis de uso. No Brasil, a GWM segue expandindo a produção local, com destaque para a picape Poer, lançada em setembro, e novos modelos híbridos e de luxo — H9, Tank 300 e Wey 07 — reforçando a integração entre suas operações nacionais e internacionais. (Inside EVs - 16.10.2025)
Rho Motion: Mais de 2 milhões de VEs vendidos no mundo em setembro
O mercado global de veículos eletrificados (BEVs e PHEVs) registrou recorde histórico em setembro de 2025, com 2,1 milhões de unidades vendidas, impulsionado pela forte demanda na China, Europa e América do Norte. A Europa teve crescimento expressivo de 36% em relação a 2024, com destaque para o Reino Unido, beneficiado por subsídios, e para países como Alemanha, Itália e Espanha, que ampliaram programas de incentivo. Nos Estados Unidos, o segundo mês consecutivo de recorde foi favorecido por créditos fiscais federais, embora se espere desaceleração nas vendas no último trimestre do ano. A China manteve liderança global, com 1,3 milhão de unidades comercializadas em setembro e quase 9 milhões de EVs no acumulado anual, consolidando seu protagonismo no setor. Paralelamente, o Resto do Mundo apresentou expansão robusta, com 1,2 milhão de veículos vendidos entre janeiro e setembro, alta de 48% sobre o ano anterior, refletindo o avanço da mobilidade elétrica em mercados emergentes da Ásia, América Latina, Oriente Médio e África, e indicando a crescente adoção de soluções sustentáveis em escala global. (Inside EVs - 16.10.2025)
Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis
Artigo de Amanda Tavares: "O papel da rede de transporte na transição energética: propostas regulatórias para a injeção de biometano em gasodutos no Brasil"
Em artigo publicado pelo Ensaio Energético, Amanda Tavares (doutora em Ciências Econômicas pela UFF) trata de como a abertura do mercado brasileiro de gás (Lei 14.134/2021) cria a janela para integrar biometano à malha de transporte, conciliando competição, segurança de suprimento e descarbonização. Mostra que o biometano, purificado do biogás de resíduos urbanos e agroindustriais, é intercambiável com o gás natural, pode reduzir até ~80% das emissões e já conta com arcabouço da ANP (qualidade e autorizações) e incentivos do RenovaBio (CBIOs). Embora ainda incipiente, o Brasil pode saltar de 6 para 24 usinas no curto prazo e chegar a 86 plantas até 2029, muito abaixo do potencial estimado (120 MMm³/d). Inspirada na Europa, e sobretudo na França com “direito de injetar”, zoneamento, reforços de rede, tarifas de compra e Garantias de Origem —, a autora propõe hubs de biometano conectados ao sistema de transporte, swaps/injeção virtual, critérios de custo-benefício para conexões, sandboxes regulatórios e um sistema nacional de GO. Também defende flexibilizar barreiras à entrada para atrair capital. Conclui que, sem acesso à rede integrada de gasodutos, o potencial brasileiro ficará subexplorado; com planejamento e regulação adequados, o biometano pode escalar como vetor chave da transição. (Ensaio energético – 13.10.2025)
Artigo de Marcelo Gauto: "Subindo a escada do hidrogênio"
Em artigo publicado pela Agência Eixos, Marcelo Gauto(gerente de Modelos de Negócios e Certificação de Produtos da Petrobras) trata do papel do hidrogênio na transição energética global, destacando seu potencial como vetor limpo e versátil, mas também suas limitações técnicas, econômicas e logísticas. Embora essencial em setores difíceis de descarbonizar, como produção de aço, fertilizantes e processos industriais —, o hidrogênio é menos competitivo em aplicações onde alternativas como baterias, biocombustíveis ou eletrificação direta são mais eficientes. A chamada “escada do hidrogênio”, proposta por Michael Liebreich, ajuda a diferenciar usos prioritários daqueles inviáveis, evitando desperdícios e ilusões tecnológicas. O autor ressalta que produzir, armazenar e transportar o gás ainda exige infraestrutura complexa e altos custos, embora investimentos bilionários, especialmente na União Europeia, busquem tornar o “hidrogênio verde” competitivo frente ao derivado de combustíveis fósseis. Assim, longe de ser uma solução universal, o hidrogênio deve ocupar nichos estratégicos onde outras tecnologias falham, atuando como peça complementar no quebra-cabeça da descarbonização global. (Agência Eixos – 13.10.2025)
Artigo de Paulo Campos Fernandes e João Pedro Riff Goulart: "Transporte coletivo urbano e biometano: chegou a hora da virada sustentável"
Em artigo publicado pela Agência Eixos, Paulo Campos Fernandes e João Pedro Riff Goulart (advogados do escritório Kincaid Mendes Vianna Advogados) tratam do papel estratégico do biometano na descarbonização do transporte coletivo urbano, destacando que os ônibus, responsáveis por significativa parcela das emissões de poluentes, representam uma oportunidade prática e de impacto imediato para a transição energética. A experiência de países como Suécia e França mostra que a substituição do diesel por biometano, produzido a partir de resíduos urbanos e agrícolas, depende de incentivos regulatórios e fiscais, infraestrutura adequada de abastecimento e contratos de longo prazo. No Brasil, programas como o Combustível do Futuro, o Programa BioSP em São Paulo e fundos de financiamento como o Fundo Clima e o Fundo Verde já criam condições favoráveis à adoção dessa tecnologia. Além dos ganhos ambientais, como a melhoria da qualidade do ar e a redução das emissões, a solução apresenta vantagens econômicas por seu custo operacional mais baixo. Contudo, o avanço dessa alternativa exige superar desafios estruturais, como a expansão da oferta de biometano, investimentos em infraestrutura e políticas públicas que incentivem sua implementação em larga escala. (Agência Eixos – 15.10.2025)
Brasil: Pré-COP30 começa com foco em financiamento climático e protagonismo dos biocombustíveis
A reunião preparatória para a COP30 teve início em Brasília com delegações de 66 países e da União Europeia, marcando o último encontro de alto nível antes da cúpula em Belém. O Brasil destacou os biocombustíveis como prioridade, com o vice-presidente Geraldo Alckmin ressaltando programas como o Mobilidade Verde e o Combustível do Futuro como pilares da transição energética e cobrando metas climáticas até 2035 dos países que ainda não apresentaram suas NDCs. O financiamento climático também dominou a agenda: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou um roteiro com cinco prioridades, incluindo ampliação de recursos concessional, reforma de bancos multilaterais e inovação financeira, para mobilizar os US$ 1,3 trilhão anuais necessários à adaptação e descarbonização. O encontro expôs tensões geopolíticas, com críticas ao baixo engajamento da Europa e à ausência de novas metas do Norte global. A expectativa é que negociações avancem para evitar bloqueios e garantir compromissos robustos em financiamento, bioenergia e proteção florestal durante a COP30. (Agência Eixos – 13.10.2025)
GWM: Parceria com IPT para testar H2V em caminhões no Brasil
A GWM fechou uma parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, para testar caminhões movidos a hidrogênio verde (H2V) no Brasil. No novo Laboratório de Hidrogênio (LabH2) do IPT estarão disponíveis estações de abastecimento e infraestrutura para pesquisas ao longo de toda a cadeia — produção, armazenamento e uso do hidrogênio. O caminhão importado pela GWM já passou por inspeção inicial de bateria (105 kWh). Nos testes, o veículo utilizará cilindros com capacidade para 40 kg de hidrogênio, combinando célula combustível e bateria, com recuperação de energia em frenagens. A estratégia inclui três fases: 1) testes básicos de hidrogênio, 2) uso das estações com diferentes origens do gás (eletrólito, reforma de etanol etc) e 3) análise econômico-financeira para verificar viabilidade comercial. A iniciativa faz parte dos esforços de P&D da GWM dentro do programa Mover do governo federal e está alinhada ao plano global da empresa de neutralizar suas emissões até 2045. (Megawhat – 09.10.2025)
Petrobras: Conquista de certificação internacional para produção de SAF
A Petrobras anunciou que a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, obteve a certificação internacional ISCC CORSIA, tornando-se a primeira refinaria do Brasil autorizada a produzir e comercializar combustível sustentável de aviação (SAF) conforme os padrões globais de sustentabilidade e redução de emissões da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao). O SAF será fabricado pela rota HEFA, a partir do coprocessamento de óleos vegetais com petróleo, com 1,2% de conteúdo renovável, proporção alinhada à meta de corte de 1% das emissões do setor doméstico até 2027, prevista no programa Combustível do Futuro. A Reduc planeja iniciar em breve a comercialização de até 50 mil m³ por mês do produto, ampliando a competitividade da aviação sustentável e antecipando-se às demandas regulatórias internacionais. Segundo a Petrobras, a iniciativa coloca o Brasil na vanguarda da transição energética na aviação e demonstra como a indústria nacional pode liderar avanços rumo à descarbonização. A empresa também realiza testes de coprocessamento na Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos. (Agência Eixos – 15.10.2025)
Wood Mackenzie: Hidrogênio de baixo carbono entra em nova fase de maturação e mantém papel estratégico na transição energética
Após anos de entusiasmo e manchetes ambiciosas, o setor de hidrogênio de baixo carbono passa por uma fase de transição: menos anúncios espetaculares e mais foco na entrega concreta. Para Pierre-Étienne Franc, CEO da HY24, isso representa normalização, não estagnação, os projetos estão maiores, a produção de eletrolisadores cresceu de dezenas para centenas de megawatts e a liderança industrial migra para Ásia e Oriente Médio. O primeiro impacto virá na substituição do hidrogênio cinza por verde em fertilizantes e refino, além de aplicações em siderurgia, amônia e metanol. No transporte pesado, ele pode complementar baterias onde há limitações de infraestrutura. Alex Tancock, da Intercontinental Energy, destaca modelos escaláveis, como o projeto de 26 GW na Austrália, estruturado em módulos repetíveis que reduzem custos. Segundo ele, o foco deixou de ser o preço por quilo e passou a ser capex, cadeia de suprimentos e custo de capital, com a China impulsionando a queda nos preços de equipamentos. No entanto, políticas mais claras e estáveis, especialmente na Europa, serão fundamentais para gerar demanda e viabilizar setores como combustíveis sustentáveis de aviação. O setor, longe de estar em declínio, está amadurecendo para cumprir um papel essencial na descarbonização global. (Wood Mackenzie – 12.10.2025)
Recursos Energéticos Distribuídos e Digitalização
Base Power: Financiamento de US$ 1 bilhão para expandir rede de baterias residenciais nos EUA
A Base Power, empresa de tecnologia energética com sede em Austin, arrecadou US$ 1 bilhão em rodada Série C para ampliar a instalação de sistemas de baterias residenciais nos Estados Unidos. A captação, liderada pela Addition e acompanhada por grandes fundos de investimento, posiciona a companhia entre as startups mais capitalizadas do setor de transição energética, refletindo o crescente interesse em soluções de energia distribuída diante da pressão sobre a rede elétrica causada por eventos climáticos extremos, aumento da eletrificação e infraestrutura envelhecida. O modelo de negócios da Base Power baseia-se no arrendamento de baterias a consumidores residenciais, permitindo o armazenamento e a venda do excedente de energia à rede. Essa abordagem descentralizada fortalece a resiliência do sistema e favorece a integração de fontes renováveis, auxiliando no equilíbrio entre oferta e demanda. Em sua estratégia de expansão, a empresa construirá sua primeira unidade de armazenamento e fabricação de eletrônicos de potência em Austin e pretende abrir novas instalações para atender ao crescimento do mercado de baterias distribuídas. (ESG News - 10.10.2025)
Editorial Enlit: “Tecnologias de automação da rede e seu papel na transição net zero da União Europeia”
Em editorial, o Enlit aborda como a automação de redes de baixa tensão, por meio de tecnologias como modelagem de redes e gêmeos digitais, pode acelerar a transição energética da União Europeia rumo à meta de zero emissões líquidas. Com o crescimento de veículos elétricos, bombas de calor e painéis solares, a complexidade das redes aumenta, exigindo soluções mais inteligentes para integrar novos ativos sem comprometer o desempenho do sistema. O Reino Unido já lidera nesse campo, com plataformas como a VisNet Connect permitindo que operadores de redes de distribuição (DSOs) avaliem conexões de forma rápida, transparente e automatizada, reduzindo prazos de semanas para minutos. A modelagem possibilita simular o impacto de novos projetos, como empreendimentos urbanos ou hubs de recarga, antecipando investimentos ou ajustes na infraestrutura. O texto defende que a adoção dessas tecnologias, já testadas com sucesso no Reino Unido, permitirá aos DSOs europeus planejar de forma mais dinâmica e eficiente, promovendo redes mais resilientes e acelerando a implantação de tecnologias limpas essenciais para atingir as metas climáticas. (Enlit - 16.10.2025)
Impactos Socioeconômicos
Artigo de Angela Asuncion e Yu Hongyuan: “Por que precisamos de uma moldura global para governar os minerais de transição”
Em artigo publicado no Sustainable Views, Angela Asuncion (coordenado no Grupo de Trabalho de Responsabilidade Mineral da Transição da Ásia-Pacífico da Resource Justice Network) e Yu Hongyuan (vice-diretor do Departamento de Organizações e Leis Internacionais do Instituto de Estudos Internacionais de Xangai) defendem a criação de um marco global de governança para os minerais da transição energética, essenciais para tecnologias limpas como solar e eólica. Os autores argumentam que, sem regras transparentes e justas, o aumento da demanda por lítio, níquel, cobre e terras raras pode repetir os abusos ambientais e sociais da era dos combustíveis fósseis — especialmente em países produtores como Filipinas, Indonésia e Peru, onde comunidades indígenas e ecossistemas já sofrem com exploração e violência. Eles propõem que a COP30 em Belém estabeleça um grupo de trabalho dedicado à governança dos minerais de transição dentro do programa de Transição Justa da ONU, com foco em direitos humanos, transparência, consentimento livre e prévio, e repartição equitativa de benefícios. O texto enfatiza que uma governança baseada em direitos, com coordenação entre países do Sul Global e financiamento justo, é essencial para garantir que a transição energética seja sustentável, inclusiva e não reproduza o neocolonialismo mineral. (Sustainable Views - 13.10.2025)
Artigo de Jan Philipp Albrecht: “Preços da eletricidade devem cair!”
Em artigo publicado no EnergyTransition.org, Jan Philipp Albrecht (presidente da Fundação Heinrich-Böll) defende que os preços da eletricidade na Alemanha precisam cair urgentemente para viabilizar a transição energética. O autor destaca que, embora tecnologias limpas para transporte, aquecimento e indústria já existam, a troca de fontes fósseis por eletricidade renovável ainda é economicamente desvantajosa devido a altas tarifas, taxas e impostos sobre a eletricidade – especialmente as elevadas tarifas de rede elétrica. Isso prejudica cidadãos, empresas inovadoras e projetos comunitários comprometidos com a transição verde, enquanto tecnologias fósseis ultrapassadas continuam sendo incentivadas. O artigo critica a política energética do governo federal por manter tributos sobre a eletricidade, planejar mais usinas a gás e cortar apoios às renováveis, e propõe que o Estado assuma parte dos custos da rede elétrica. O autor conclui que soluções sustentáveis precisam ser mais acessíveis do que as poluentes, ou a transição energética e a segurança econômica da Alemanha estarão ameaçadas. (EnergyTransition.org - 14.10.2025)
Artigo de Tatiana Lima: “O rastro bilionário do carvão que resiste à transição energética”
Em artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, Tatiana Rute Pontes Lima (internacionalista e mestra em governança global e formulação de políticas internacionais) expõe a persistência dos subsídios bilionários ao carvão mineral no Brasil. A autora denuncia que a fonte, atualmente, responde por menos de 2% da matriz elétrica, mas recebe mais de R$ 1 bilhão por ano via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), custeada por todos os consumidores. Ela argumenta que, sob o pretexto de segurança energética e manutenção de empregos, o setor se mantém graças a uma rede de lobby, captura legislativa e contratos privilegiados — como os das usinas Jorge Lacerda (SC) e Candiota 3 (RS) — que garantem rentabilidade e prorrogação de subsídios até 2040. O texto mostra que o carvão é a fonte mais cara e poluente, responsável por 25 milhões t de CO₂ anuais, e que os empregos gerados custam até R$ 500 mil por trabalhador. Apesar dos impactos ambientais e sociais, o governo mantém omissões regulatórias e lacunas na fiscalização. O artigo conclui que a defesa desses incentivos revela um sistema político capturado por interesses fósseis e que romper esse ciclo é essencial para uma transição energética justa, limpa e transparente. (Diplomatique Brasil - 14.10.2025)
Editorial Energy Intelligence: “Transição energética avança apesar dos ventos contrários”
Em editorial, o Energy Intelligence analisa o progresso da transição energética global, destacando que, apesar de retrocessos políticos, pressões da indústria de combustíveis fósseis e o colapso de alianças financeiras climáticas, investimentos em energias renováveis e eletrificação continuam crescendo fortemente — superando os investimentos fósseis na proporção de 2 para 1. É pontuado que Países emergentes estão liderando avanços notáveis, como o boom de energia solar no Paquistão e o crescimento dos veículos elétricos no Sudeste Asiático, enquanto a inteligência artificial é vista como chave para gerenciar sistemas energéticos descentralizados. Ao mesmo tempo, empresas de petróleo e instituições financeiras ajustam suas estratégias, mantendo investimentos fósseis sob a justificativa de garantir segurança energética, desde que acompanhados por aumentos proporcionais no financiamento limpo. O texto defende que, para a transição ser bem-sucedida e evitar picos de preço ou escassez, é essencial coordenar de forma equilibrada a redução do uso de combustíveis fósseis e o crescimento das renováveis. (Energy Intelligence - 10.10.2025)
Editorial Reuters: “A guerra híbrida russa pode deixar os consumidores de energia da Europa no frio”
Em editorial, o Reuters analisa como a recente intensificação de ações de “guerra híbrida” atribuídas à Rússia — como ataques cibernéticos, violações de espaço aéreo e sabotagens — expõe a vulnerabilidade da infraestrutura energética da Europa, especialmente às vésperas do inverno, estação de expansão da demanda por eletricidade, sobretudo para o aquecimento. Embora ainda não tenham atingido diretamente o sistema energético, essas ações sinalizam risco iminente, considerando o histórico de incidentes, como o corte de cabos e gasodutos no Mar Báltico. É pontuado que a crescente digitalização da rede torna o sistema ainda mais exposto a ciberataques. Apesar de iniciativas como o aumento da vigilância naval no Báltico e planos para um “muro de drones”, analistas avaliam que a Europa ainda está mal preparada. Como resposta, o artigo defende diversificação das fontes de energia, aumento da geração renovável local, uso de baterias e expansão do armazenamento estratégico de gás. O texto conclui que combater essa ameaça exigirá forte cooperação internacional e investimentos significativos em segurança energética. (Reuters - 13.10.2025)
EUA: Preço da energia deverá decolar com corte de subsídios
A decisão do governo Trump de cancelar cerca de US$ 8 bilhões em subsídios do Departamento de Energia para projetos de energia limpa pode ser ilegal e terá impactos severos sobre os preços da energia nos EUA, segundo o senador Martin Heinrich, líder democrata no comitê de energia do Senado. Ele afirma que os contratos já estavam assinados e que o corte afetará 218 de 233 projetos, como armazenamento de baterias e hidrogênio verde, a maioria em estados com governadores democratas. Os cortes, segundo ele, reduzirão a flexibilidade e a oferta na rede elétrica, resultando em tarifas mais altas para os consumidores. A administração Trump, por sua vez, alega priorizar fontes fósseis como petróleo, gás e carvão para atender à crescente demanda dos data centers impulsionada por inteligência artificial. Críticos alertam que essa estratégia ignora a necessidade de energias renováveis e armazenamento para garantir estabilidade no sistema. O JP Morgan, por exemplo, anunciou um plano de US$ 1,5 trilhão para investimentos em energia limpa e alertou que excluir renováveis é um risco para a segurança energética do país. (Reuters - 16.10.2025)
Grécia: Excesso de geração solar sem cobertura do armazenamento coloca transição energética em risco
A transição energética da Grécia enfrenta riscos devido à dependência excessiva da energia solar fotovoltaica, à lentidão na implementação de novas tecnologias e ao atraso no armazenamento de energia. Apesar de a geração renovável já superar 50% da matriz elétrica, o crescimento acelerado gerou desafios como cortes de produção (curtailments) e aumento de horas com preços nulos ou negativos, o que compromete a rentabilidade dos projetos e afasta investidores. Embora mais de 15 GW em projetos tenham conexão garantida, o atraso na implantação de baterias autônomas compromete a solução dos problemas atuais. A diversificação da matriz também está estagnada, com o programa de eólicas offshore parado e o armazenamento de carbono e o hidrogênio verde ainda em estágio piloto. Além disso, o fundo especial de renováveis entrou em déficit, e a demanda futura de eletricidade é incerta, já que a adoção de carros elétricos e bombas de calor está abaixo da média europeia. Diante desses entraves, a Grécia pode não alcançar as metas previstas em seu Plano Nacional de Energia e Clima (NECP, na sigla em inglês) para 2030. (Balkan Green Energy News - 13.10.2025)
IEA: Financiamento de transição pode mobilizar até US$ 5 trilhões e acelerar descarbonização em setores difíceis
Um novo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) destaca o papel crucial do financiamento de transição na mobilização de capital para projetos que, embora não se enquadrem no rótulo tradicional de “finanças verdes”, são essenciais para reduzir emissões em setores de difícil descarbonização. Publicado no Fórum Empresarial da Comunidade de Emissão Zero da Ásia, o estudo “Scaling Up Transition Finance” estima que entre US$ 400 bilhões e US$ 500 bilhões anuais, ou até US$ 5 trilhões na próxima década, possam ser direcionados a iniciativas em áreas como aço, cimento, minerais críticos e gás natural, volumes comparáveis ao mercado global atual de títulos verdes. O relatório enfatiza que o sucesso depende de estratégias robustas de governos e empresas, bem como de estruturas adequadas para pequenas e médias empresas, especialmente em economias emergentes. Caso contrário, instituições financeiras podem apenas reduzir sua exposição a setores emissores sem impacto real. Com a abordagem correta, o financiamento de transição pode deixar de ser visto como secundário, tornando-se um dos pilares globais na luta contra as mudanças climáticas. (IEA – 16.10.2025)
Eventos
COP 30: Fósseis concentram 82% dos subsídios no Brasil
Durante os debates da Pré-COP 30, em Brasília, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, defendeu que os subsídios públicos destinados às fontes renováveis superem aqueles voltados aos combustíveis fósseis, destacando o desequilíbrio atual entre os dois setores. Segundo ela, enquanto os incentivos globais aos fósseis variam entre US$ 1,5 trilhão e US$ 7 trilhões, os aportes em energias limpas somam cerca de US$ 170 bilhões nos países do G20, chegando a US$ 500 bilhões quando incluídos investimentos privados. No Brasil, dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) mostram que 82% dos subsídios energéticos ainda são direcionados aos combustíveis fósseis. Em 2023, dos R$ 99,8 bilhões em incentivos ao setor, R$ 81,7 bilhões beneficiaram petróleo e gás, contra R$ 18 bilhões para fontes renováveis. O assessor político do Inesc, Cássio Cardoso Carvalho, ressaltou que a revisão dessa política de incentivos é essencial para viabilizar a transição energética, hoje dificultada pela desproporção nos investimentos públicos. (Canal Solar - 16.10.2025)
COP 30: Mutirão da transição energética debate desafios e oportunidades do setor energético brasileiro
O Mutirão da Transição Energética para a COP30, promovido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em parceria com a ABEEólica, debateu estratégias para expansão, resiliência e modernização das redes elétricas. O primeiro painel abordou a digitalização dos sistemas, o uso de tecnologias de armazenamento e a capacidade de resposta a eventos climáticos extremos, além do planejamento de grandes cargas de consumo, como hidrogênio verde e data centers, enfatizando a coordenação regulatória e de investimentos. Participaram representantes do MME, ONS, Hitachi, Global Renewables Alliance, FMASE e State Grid. O segundo painel tratou da ampliação do acesso à energia elétrica e ao cozimento limpo, destacando financiamento, mitigação de riscos, tecnologias adequadas e marcos regulatórios regionais, com referência a políticas públicas como o programa Luz Para Todos. Já o terceiro painel focou no planejamento energético como ferramenta para mobilização de investimentos, fornecendo dados confiáveis e estratégicos para formulação de políticas públicas e tomada de decisão. Participaram do último painel representantes do MME, EPE, BNDES, IRENA e Neoenergia. (MME - 13.10.2025)
Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática: Estatais apontam direções inexploradas pelo setor privado para a transição energética
As empresas estatais estão desempenhando papel estratégico na transição energética ao apontarem caminhos ainda pouco explorados pelo setor privado, conforme exposto no seminário Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática, promovido pela secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (Sest/MGI) com apoio da Petrobras, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e da Open Society Foundations (OSF). Com capacidade de investir em larga escala e foco no interesse público, foi apontado que essas empresas lideram iniciativas em energia renovável, eletrificação e biocombustíveis, integrando inovação, soberania e justiça social. O Plano Nacional de Energia 2055 destaca a diversificação da matriz energética, incluindo hidroeletricidade, combustíveis sintéticos e hidrogênio. A Petrobras, por exemplo, destina 15% de seu Capex à transição energética e busca ampliar sua presença em bioprodutos e energia solar e eólica offshore. A Itaipu Binacional destaca seu papel como "bateria" do sistema elétrico, enquanto a Petronas aposta no gás natural como fonte de transição e em tecnologias de captura de carbono. O debate também incluiu a importância da requalificação dos trabalhadores da indústria fóssil e da coordenação estatal para garantir uma transição justa e inclusiva, sobretudo diante do aumento da demanda energética impulsionada pela digitalização e eventos climáticos extremos. (Gov.br - 16.10.2025)
Gitex Global: Brasil busca ampliar cibersegurança e atrair data centers com nova política nacional
O secretário de Segurança da Informação e Cibernética do GSI, André Molina, afirmou que um dos principais desafios do Brasil é desenvolver uma política nacional para atrair data centers e garantir o processamento e armazenamento de dados no país. Durante o evento Gitex Global, em Dubai, ele destacou que a criação de uma Agência de Segurança Cibernética, parte do Plano Nacional de Cibersegurança, está em discussão no Congresso. Apesar de avanços, como as 175 milhões de contas Gov.br, o país ainda enfrenta desigualdade cibernética e vulnerabilidades, sobretudo entre pequenas e médias empresas. No painel, representantes da Interpol reforçaram a importância da cooperação internacional contra crimes on-line, como phishing, e recomendaram o uso de autenticação multifator e a educação digital para reduzir riscos. (Valor Econômico - 17.10.2025)
XXXI Simpósio Jurídico ABCE: Diretor da ANEEL defende abertura do mercado livre e frisa desafios estruturais do setor
O diretor da Aneel, Fernando Mosna, defendeu, no XXXI Simpósio Jurídico da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (ABCE), a abertura do mercado livre de energia elétrica, classificando o tema como o mais relevante nas atuais Medidas Provisórias (MPs) do setor elétrico. No entanto, ele ponderou que as distribuidoras não estão preparadas para cumprir os prazos propostos. Mosna afirmou que o setor já possui base técnica e conhecimento suficientes, citando a consulta pública 33/2016 e o PL 414, que tratam da modernização do setor. Ele destacou a necessidade de reformas urgentes, especialmente diante da crescente complexidade e descentralização do sistema. Manifestou preocupação com o aumento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que deve chegar a R$ 50 bilhões em 2025, defendendo maior transparência nos subsídios. Sobre a geração distribuída (GD), alertou que o sistema carece de monitoramento adequado e de ações legislativas. Em relação às MPs, criticou mudanças na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e as responsabilidades de supridor de última instância (SUI), e elogiou o teto para a CDE proposto pela MP 1304, sugerindo antecipar sua aplicação para 2025. Mosna concluiu que o setor enfrenta desafios estruturais ligados a subsídios, abertura do mercado e redefinição do papel das distribuidoras. (Agência CanalEnergia - 15.10.2025)