Transição Energética 95
Dinâmica Internacional
Austrália: Novo esquema de garantia de origem certificará energia e produtos de baixo carbono
O governo australiano lançou o esquema de Garantia de Origem (GO), uma estrutura voluntária que visa certificar a eletricidade renovável e as emissões de produtos como hidrogênio e metais verdes. Administrado pelo Regulador de Energia Limpa, o programa busca oferecer transparência e credibilidade às empresas que produzem ou utilizam energia limpa, permitindo relatar com precisão o uso de fontes renováveis e acessar mercados de exportação de baixas emissões. O GO disponibilizará certificados públicos de Garantia de Origem do Produto (PGO) e de Eletricidade Renovável (REGO), que registrarão a intensidade de emissões e o local e período de geração. Segundo o ministro de Mudanças Climáticas e Energia, Chris Bowen, a iniciativa cria a base regulatória necessária para que a Austrália amplie sua participação no investimento global em energia limpa, estimado em mais de US$ 2 trilhões. O esquema também integra o programa Future Made in Australia, que inclui incentivos bilionários para hidrogênio verde e alumínio de baixo carbono, fortalecendo a competitividade e a rastreabilidade ambiental dos produtos australianos. (Energy Monitor – 03.11.2025)
Egito: Novos projetos solares e de armazenamento reforçam transição energética e meta de 42% de energia renovável até 2030
A Hassan Allam Utilities Energy Platform, em parceria com a Infinity Power, firmou acordos com o Ministério de Eletricidade e Energia Renovável do Egito e com a Empresa Egípcia de Transmissão de Eletricidade para desenvolver dois grandes projetos de energia limpa, totalizando 1.200 MW em capacidade solar e 720 MWh de armazenamento em baterias. O consórcio, que inclui o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento e a Meridiam, construirá uma usina de 200 MW em Benban, com 120 MWh de armazenamento, prevista para operar em 2026, e outra de 1.000 MW em Minya, com 600 MWh, programada para 2027. Avaliados em US$ 2 bilhões, os projetos integram a estratégia egípcia de elevar a participação de renováveis para 42% da matriz até 2030 e 65% até 2040, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e fortalecendo a estabilidade da rede elétrica. Com presença em vários países africanos, a Infinity Power planeja atingir 10 GW de capacidade até 2030, enquanto a Hassan Allam Utilities mantém portfólio de 2,3 GW em desenvolvimento e reafirma seu compromisso com investimentos sustentáveis e de longo prazo em energia verde. (Energy Monitor – 06.11.2025)
Europa: Amazon adiciona quase 1 GW em energia limpa com 20 novos projetos renováveis no continente
A Amazon anunciou a entrada em operação de 20 novos projetos de energia renovável na Europa em 2025, adicionando quase 1 gigawatt (GW) de capacidade limpa às redes elétricas do continente. As iniciativas, desenvolvidas em parceria com 12 empresas de energia em cinco países, têm potencial para abastecer o equivalente a mais de 700 mil residências por ano. Com isso, a companhia passa a apoiar mais de 230 projetos renováveis europeus, principalmente por meio de contratos de compra de energia (PPAs), que garantem previsibilidade financeira a desenvolvedores e estimulam novos investimentos. Entre os destaques, estão o parque eólico offshore Baltic Eagle, na Alemanha (189 MW), a fazenda solar Miłkowice, na Polônia (87 MW), e os parques solares Energías de Barranquilla e Valle del Sol, na Espanha (64 MW). A empresa já possui mais de 40 projetos operacionais no continente e planeja ultrapassar 70 até 2030. O objetivo é acelerar a descarbonização das redes elétricas, priorizando países estratégicos e regiões com alta dependência de combustíveis fósseis. (Energy Monitor – 04.11.2025)
Índia: Novas regras para energia renovável podem reduzir lucros e frear investimentos
Os regulamentos propostos pela Comissão Reguladora Central de Eletricidade (CERC) da Índia impõem que produtores de energia solar e eólica correspondam com precisão às entregas de eletricidade comprometidas com a rede, o que pode reduzir significativamente os lucros e afastar novos investimentos, segundo a Reuters. O projeto, divulgado em setembro de 2025, endurece o Mecanismo de Liquidação de Desvios, diminuindo gradualmente até 2031 a margem de erro entre a energia prevista e a efetivamente gerada. A medida busca fortalecer a confiabilidade da rede elétrica, à medida que as fontes renováveis ganham peso no mix energético indiano. No entanto, associações do setor alertam que as regras penalizam injustamente projetos eólicos, mais vulneráveis às variações climáticas, e estimam perdas de até 48% na receita de empreendimentos mais antigos. Entidades da energia solar também demonstraram preocupação, afirmando que as novas exigências podem comprometer a viabilidade financeira e desacelerar a expansão do setor. As críticas ocorrem em meio à meta nacional de dobrar a capacidade não fóssil para 500 GW até 2030. (Energy Monitor – 05.11.2025)
ONU: Relatório alerta para estagnação no progresso climático
O relatório Emissions Gap Report 2025, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), revela que o progresso global no combate às mudanças climáticas está estagnado. Embora ainda seja tecnicamente possível limitar o aquecimento global a 1,5°C, a falta de ação efetiva dos países torna provável uma ultrapassagem temporária desse limite, com projeções indicando aquecimento entre 2,3°C e 2,5°C caso não haja cortes mais profundos nas emissões. Mesmo os cenários mais otimistas, baseados na implementação total das metas climáticas nacionais (NDCs) e compromissos de emissões líquidas zero, limitariam o aquecimento a cerca de 1,9°C. O relatório enfatiza que cada fração adicional de grau implica danos crescentes e riscos de impactos irreversíveis, afetando especialmente as populações mais vulneráveis. Além disso, destaca que apenas poucos países do G20 estão no caminho certo para cumprir suas metas, reforçando a urgência de uma ação imediata e coordenada na COP 30, que será realizada em Belém, voltada à implementação de metas já estabelecidas. (Agência CanalEnergia – 04.11.2025)
União Europeia: Definição de meta para reduzir 90% das emissões até 2040
Os países da União Europeia (UE) aprovaram uma nova meta de redução de 90% das emissões de gases de efeito estufa até 2040, em comparação aos níveis de 1990, porém com flexibilidades que enfraquecem o compromisso climático. O acordo, fechado a menos de uma semana da COP30 em Belém, permite que os países comprem créditos de carbono internacionais para compensar até 5% da meta, o que, na prática, reduz o corte efetivo para cerca de 85%. A medida reflete divisões internas entre os membros do bloco — com Portugal e França apoiando a flexibilidade, Itália e Polônia defendendo uma margem ainda maior e Espanha e Holanda se opondo ao afrouxamento. O pacto também define uma faixa de redução entre 66,25% e 72,5% até 2035 e adia para 2028 a criação de um novo mercado de carbono. O consenso garante que a UE chegue à conferência climática com uma posição formal, ainda que menos ambiciosa do que a inicialmente proposta pela Comissão Europeia. (Valor Econômico - 05.11.2025)
Wood Mackenzie: Nenhuma grande economia atingirá meta de emissões zero até 2050
O relatório “Energy Transition Outlook 2025-2026”, da Wood Mackenzie, revela que nenhuma das principais economias do mundo, incluindo os países do G7, está no caminho para atingir a meta de emissões líquidas zero até 2050. O estudo aponta que, no ritmo atual, o marco só seria alcançado após 2060, diante do crescimento da demanda energética, da expansão tecnológica e de tensões geopolíticas que dificultam a transição. Segundo o vice-presidente da Wood Mackenzie, Prakash Sharma, a descarbonização enfrenta desafios de escala, integração de sistemas, alocação de capital e segurança energética. Para limitar o aquecimento global a 2°C, seriam necessários US$ 4,3 trilhões por ano em investimentos entre 2025 e 2060, o que elevaria o aporte do setor de energia de 2,5% para 3,35% do PIB global. O cenário base prevê o pico das emissões em 2028 e uma desaceleração na redução para 2% ao ano, o que colocaria o planeta numa trajetória de aquecimento de 2,6°C. O estudo mostra ainda que fontes renováveis devem responder por 60% da geração elétrica mundial até 2050, com a solar ultrapassando o gás em 2033 e o carvão em 2034. No entanto, o avanço da inteligência artificial e a explosão de consumo de energia por data centers elevam o risco de crises elétricas e pressão tarifária, embora também tragam potencial de inovação. A transição, segundo a consultoria, entrou em uma fase mais madura, na qual eletrificação, flexibilidade e descarbonização precisam ser tratadas de forma interconectada para garantir a segurança e a sustentabilidade dos sistemas energéticos globais. (Petronotícias – 03.11.2025)
Nacional
Artigo de Michael Bloomberg: "Mobilizando financiamento para energia limpa"
Em artigo publicado pelo Valor Econômico, Michael Bloomberg (enviado especial da ONU para Ambição e Soluções Climáticas e fundador da Bloomberg Philanthropies) trata da importância de enxergar a transição energética global como uma oportunidade crescente, destacando que o investimento em energia limpa tem batido recordes e que o Brasil, anfitrião da COP30, está bem posicionado para liderar esse movimento. Ele aponta que o país combina metas climáticas ambiciosas — como reduzir as emissões em dois terços até 2035 e eliminar o desmatamento até 2030 — com políticas concretas para atrair financiamento verde, por meio do Plano de Transformação Ecológica e de parcerias como o Acelerador de Transição Industrial e a Plataforma de Investimento em Transformação Climática e Ecológica (BIP). Bloomberg enfatiza que o sucesso brasileiro pode servir de modelo global, provando que é possível conciliar crescimento econômico, proteção ambiental e inclusão social, e que o engajamento do setor privado será essencial para transformar a COP30 em um marco da ação climática mundial. (GESEL-IE-UFRJ – 06.11.2025)
Cebri: Estudo propõe política nacional para minerais críticos e maior agregação de valor no Brasil
Um estudo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e instituições acadêmicas, recomenda que o Brasil adote uma política nacional para minerais críticos e estratégicos, fortalecendo o mapeamento geológico, modernizando a regulação e criando mecanismos de financiamento para o desenvolvimento de cadeias produtivas. O país possui grandes reservas de insumos como terras raras, nióbio, lítio, níquel e grafita, mas ainda depende da exportação de commodities brutas, com baixa captura de valor agregado. A pesquisadora Rafaela Guedes destaca que o Brasil pode se posicionar globalmente junto a potências como EUA, China e União Europeia, mas precisa superar gargalos como licenciamento lento, falta de previsibilidade regulatória e lacunas no conhecimento geológico. O estudo defende políticas industriais focadas no midstream, etapa intermediária entre extração e processamento, e parcerias com o setor privado para inovação e adensamento tecnológico. Guedes ressalta que o país tem vantagens como matriz energética limpa e vastos recursos naturais, o que o coloca em posição estratégica na corrida mundial por minerais essenciais à transição energética e à indústria tecnológica. (Valor Econômico - 07.11.2025)
COP 30: Ceará destaca protagonismo em políticas ambientais e na transição energética
O Ceará participará da COP30 com uma agenda robusta voltada à transição energética justa, inovação climática e inclusão social. O destaque será o painel “Do Nordeste para o Mundo”, no dia 13/11, onde o governador Elmano de Freitas apresentará ações ligadas à produção de Hidrogênio Verde (H2V) e à valorização da Caatinga como ativo estratégico para o desenvolvimento sustentável. O estado abriga o projeto de H2V mais avançado do Brasil no Complexo do Pecém, com sete pré-contratos firmados e investimentos estimados em US$ 30 bilhões. A iniciativa reforça o papel do Ceará como líder regional em energia limpa. Durante o evento, o estado também entregará o novo Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa e reforçará seu papel na coordenação ambiental do Consórcio Nordeste. Na Zona Verde, o Ceará apresentará o Programa Agente Jovem Ambiental (AJA), maior do Brasil em educação ambiental, envolvendo 10 mil jovens de 184 municípios. Além disso, a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do estado (SEMA-CE) promoverá debates sobre uso do solo, combate à desertificação e desmatamento ilegal, além de apresentar inovações digitais em gestão ambiental. O conjunto de ações reafirma o protagonismo do Ceará na agenda climática global. (SEMA-CE – 04.11.2025)
EPE: Estudo analisa os efeitos das mudanças climáticas na matriz elétrica brasileira do futuro
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) lançou o estudo “Impactos das Mudanças Climáticas no Planejamento da Geração de Energia Elétrica”, desenvolvido em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, o Ministério de Minas e Energia (MME), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o consórcio formado pela PSR e a Tempo OK. O trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projeto Sistemas de Energia do Futuro, fruto da Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável. Baseado em projeções climáticas e simulações de operação e expansão do Sistema Interligado Nacional (SIN), o trabalho revela que, ao considerar diferentes cenários de mudanças climáticas ao planejamento, há a possibilidade de redução dos custos de operação em até 13%, o que representaria um efeito médio de 7% nas tarifas de energia. É pontuado que as mudanças no regime de chuvas devem diminuir as vazões nos subsistemas Sudeste, Norte e Nordeste, e aumentá-las no Sul, impactando a gestão dos reservatórios e a confiabilidade da matriz elétrica. Também é previsto aumento de até 6% na demanda de energia nos meses mais quentes, devido ao maior uso de refrigeração, coincidindo com períodos de menor disponibilidade hídrica. Além disso, o estudo destaca que os impactos das mudanças climáticas não serão socialmente neutros, afetando desproporcionalmente as famílias de baixa renda. Ainda, o trabalho contempla uma análise de medidas regulatórias que podem contribuir para o enfrentamento de cenários climáticos mais adversos pelo setor elétrico. Acesse o estudo aqui. (EPE – 04.11.2025)
Fórum Nacional de Transição Energética: Início dos trabalhos com foco no PNTE, Plante e Plano 2026
A primeira reunião plenária do Fórum Nacional de Transição Energética (FONTE), realizada em 3 de novembro, marcou o início oficial das atividades do novo espaço de diálogo permanente sobre a Política Nacional de Transição Energética (PNTE). O encontro reuniu representantes do governo, setor produtivo e sociedade civil para debater diretrizes voltadas a um futuro energético mais sustentável, inclusivo e inovador. Criado pela Resolução CNPE nº 5/2024, o FONTE é um órgão consultivo que visa consolidar propostas para orientar as decisões do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A composição do Fórum inclui 87 integrantes divididos igualmente entre os três setores, com critérios de diversidade: ao menos 50% de mulheres e 30% de pessoas negras, indígenas ou quilombolas. A reunião apresentou a minuta do Plano Nacional de Transição Energética (Plante) e o Plano de Trabalho 2026, que norteará a elaboração da Carta de Recomendações ao CNPE — principal entrega do Fórum. Com atuação baseada em câmaras temáticas, consultas públicas e reuniões periódicas, o FONTE terá regimento interno aprovado até o final de 2025, reforçando o papel do Brasil como liderança global na transição energética limpa e de baixo carbono. (Cana Online – 04.11.2025)
MME: Plano de transição energética propõe estímulos à energia nuclear, biocombustíveis e armazenamento
A minuta do Plano Nacional de Transição Energética (Plante), elaborada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), propõe uma série de medidas estratégicas para orientar o Brasil rumo a uma matriz energética mais limpa, segura e inclusiva. O documento, vinculado à Política Nacional de Transição Energética (PNTE), foca no estímulo à geração nuclear, ao uso de biocombustíveis e ao avanço das tecnologias de armazenamento de energia. Na área nuclear, prevê ações para estender a vida útil de Angra 1 e 2, viabilizar a entrada em operação de Angra 3, regulamentar pequenos reatores modulares (SMR) e garantir autossuficiência na cadeia do urânio. Quanto aos biocombustíveis, o plano defende o fortalecimento das cadeias sustentáveis de biomassa, o uso do gás natural e do biometano em setores difíceis de descarbonizar, além da promoção de combustíveis avançados e sintéticos para o transporte. O Plante também estimula investimentos em armazenamento, incluindo baterias (BESS) e usinas hidrelétricas reversíveis, com reclassificação regulatória voltada a serviços de flexibilidade. Outras prioridades incluem regulamentação para eólicas offshore, incentivo ao hidrogênio de baixo carbono, tecnologias de captura de carbono (CCS) e ações para modernizar hidrelétricas, redes de transmissão e distribuição. O plano reforça ainda o compromisso com eficiência energética, acesso justo à eletricidade, sustentabilidade urbana e descarbonização da mineração e da indústria nacional. (Bnamericas – 05.11.2025)
Moody's: Investimento em energia verde ganha tração, impulsionando transição energética do Brasil
A agência de classificação de riscos Moody's destacou que o Brasil está avançando em suas metas de descarbonização de longo prazo, impulsionado pela abundância de recursos naturais e pela expansão da capacidade industrial. A agência ressaltou o crescimento dos parques eólicos e solares no Nordeste, assim como o desenvolvimento de projetos híbridos e futuros hubs de hidrogênio verde nos Estados do Ceará e Piauí, embora ainda enfrentem desafios logísticos. O hidrogênio de baixo carbono surge como uma opção pós-2030, mas ainda carece de apoio político devido à sua viabilidade econômica. Investimentos em bioenergia estão crescendo em regiões agrícolas como Mato Grosso, com empresas como FS Indústria de Biocombustíveis e André Maggi Participações impulsionando a produção de etanol de milho. No setor de combustível sustentável de aviação, a Refinaria de Mataripe e a Petrobras planejam parcerias para desenvolver SAF e óleo vegetal hidrotratado na Bahia. A Petrobras também está investindo em gás e energia de baixo carbono, com planos de transição para alcançar neutralidade de carbono até 2050. A diversificação nos setores químico e siderúrgico também é destacada, com iniciativas como a substituição de carvão por hidrogênio pela CSN e acordos voltados à amônia e biocombustíveis no Porto de Açu. O Brasil reafirmou seu compromisso de zerar emissões líquidas até 2050 e segue metas de redução de emissões até 2030. Apesar dos avanços, a expansão das energias renováveis está pressionando a rede de transmissão, exigindo investimentos em baterias e armazenamento hidrelétrico bombeado. (Broadcast Energia - 04.11.2025)
Presidente Lula propõe fundo para financiar a transição energética com lucros do petróleo
Durante discurso na Cúpula de Líderes em Belém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a criação de um fundo que destine parte dos lucros obtidos com a exploração de petróleo à transição energética e ao enfrentamento das mudanças climáticas. A proposta, que antecede a COP-30, busca equilibrar o uso temporário de combustíveis fósseis com o investimento em fontes renováveis. Lula argumentou que a transformação deve ser gradual e segura, destacando o papel do etanol e dos biocombustíveis como alternativas limpas e de rápida adoção. Apesar das críticas de ambientalistas à exploração de petróleo na Margem Equatorial, o governo sustenta que a atividade é tecnicamente segura e essencial para o desenvolvimento regional. O presidente também defendeu mecanismos de financiamento para países do Sul Global, como a troca de dívidas por investimentos verdes, e cobrou maior coerência do sistema financeiro internacional, que ainda destina trilhões ao setor de combustíveis fósseis. Lula concluiu enfatizando a necessidade de triplicar a produção de energia renovável e eliminar a pobreza energética até 2030. (Agência Eixos – 07.11.2025)
Porto do Açu e Antuérpia-Bruges firmam corredor marítimo verde
O Porto do Açu, no norte fluminense, e o Porto de Antuérpia-Bruges, na Bélgica, assinaram uma carta de intenções para criar um corredor marítimo verde, que deve se tornar a primeira grande rota de exportação global de e-combustíveis, derivados de hidrogênio verde, como e-metanol e amônia verde. O projeto busca consolidar o Brasil como hub de combustíveis sintéticos e posicionar o complexo portuário como polo industrial de hidrogênio de baixo carbono, com R$ 20 bilhões em investimentos até 2030. Para os executivos Rogério Zampronha e Eugênio Figueiredo, da Prumo e do Porto do Açu, os biocombustíveis como etanol e biodiesel terão papel complementar, voltado a embarcações menores. A diplomacia brasileira, contudo, defende na IMO o reconhecimento desses combustíveis como alternativa viável de curto prazo, argumento contestado por armadores que apostam em derivados de hidrogênio. Especialistas e empresas, como Fortescue e NYK Bulk & Energy, reconhecem os biocombustíveis como solução de transição, mas alertam para riscos de escassez e alta de preços, reforçando que o futuro do transporte marítimo será liderado por combustíveis sintéticos e cadeias certificadas de baixo carbono. (Agência Eixos – 03.11.2025)
Tempo OK: Energia eólica dobra participação na matriz elétrica em 20 meses
A geração eólica no Brasil mais que dobrou sua participação na carga elétrica nacional, passando de 10% em fevereiro de 2024 para 22% em outubro de 2025, segundo monitoramento da Tempo OK. O avanço reflete não apenas o aumento da capacidade instalada, de 29.550 MW para 34.253 MW, conforme o ONS, mas também ganhos de desempenho impulsionados por condições atmosféricas excepcionais. De acordo com o meteorologista Paulo Lombardi, sistemas de alta pressão anômala sobre o oceano fortaleceram os ventos durante todo o ano, inclusive fora do período tradicional da “safra dos ventos”. Em 2025, a eólica manteve geração consistente mesmo em meses atípicos como abril, quando respondeu por 14% da carga total, ante 8% em 2024. O crescimento da fonte foi essencial para compensar a menor recuperação dos reservatórios hidrelétricos e reduzir o acionamento de termelétricas. Com ênfase no Nordeste, o país é hoje o 8º maior produtor eólico do mundo. Às vésperas da COP30, a energia dos ventos se consolida como vetor de segurança elétrica, baixo carbono e competitividade econômica na transição energética brasileira. (Agência CanalEnergia – 03.11.2025)
Eficiência Energética e Eletrificação de Usos Finais
Anfavea e BCG: VEs brasileiros têm a menor pegada de carbono do mundo
O Brasil conquistou destaque global ao registrar a menor pegada de carbono do mundo para veículos elétricos, segundo o estudo “Caminhos da Descarbonização”, realizado pela Anfavea em parceria com o Boston Consulting Group (BCG). A análise de ciclo de vida completo mostra que um carro 100% elétrico no país emite 14,2 toneladas de CO₂, menos da metade das 33,5 toneladas do mesmo modelo operando na China, diferença explicada pela matriz elétrica brasileira, composta por 90% de fontes renováveis. A vantagem é ainda maior nos veículos pesados: um ônibus elétrico no Brasil gera 153 toneladas de CO₂, contra 774 toneladas na China. O levantamento revela que, nos elétricos, boa parte das emissões provém da produção e descarte das baterias, mas a geração limpa nacional reduz esse impacto. O estudo indica que políticas voltadas à eletrificação têm efeito ambiental imediato no país e podem ampliar reduções de até 47% adicionais com aço verde, reciclagem de baterias e energias renováveis. Com matriz limpa e tradição em biocombustíveis, o Brasil consolida-se como referência mundial em eletromobilidade sustentável. (Inside EVs – 04.11.2025)
China: BYD atinge recorde mensal de 441 mil VEs vendidos em 2025
A BYD registrou em outubro seu melhor resultado de 2025, com 441.706 veículos eletrificados vendidos globalmente, alta de 11,47% em relação a setembro, mas queda de 12,13% frente ao mesmo mês de 2024. O desempenho reflete a expansão internacional da montadora chinesa em meio à desaceleração doméstica e à forte concorrência no mercado de veículos de nova energia. Do total, 436.856 unidades foram automóveis de passeio e 4.850 comerciais, categoria que cresceu 127,6% em um ano. Os veículos 100% elétricos (BEVs) somaram 222.559 unidades, superando os híbridos plug-in (PHEVs) pelo segundo mês consecutivo, tendência impulsionada por exportações e modelos como Seal e Dolphin. A marca principal respondeu por 395 mil vendas, enquanto a Fang Cheng Bao cresceu 415%, liderada pelo novo SUV Tai 7. No acumulado do ano, a BYD soma 3,7 milhões de veículos eletrificados (+13,9%) e 780 mil exportações (+137%). O setor de baterias também avançou, com 230,6 GWh instalados até outubro. Mantido o ritmo, a BYD deve encerrar 2025 novamente como líder mundial em veículos elétricos e híbridos plug-in. (Inside EVs – 03.11.2025)
COP 30: Lançamento de fundo para acelerar eletrificação da frota de ônibus no Brasil
O Brasil anunciou a criação do Fundo de Melhoria de Crédito para Ônibus Elétricos, iniciativa que marca um avanço significativo na descarbonização da mobilidade urbana. Lançado durante o Fórum de Líderes Locais da COP30, no Rio de Janeiro, o fundo reunirá 80 milhões de euros em aportes públicos e privados para viabilizar 450 milhões de euros em financiamentos destinados à compra de mais de 1.700 ônibus elétricos até 2030. O programa é fruto de uma parceria entre Bloomberg Philanthropies, os ministérios das Cidades e do Meio Ambiente, BTG Pactual, Mitigation Action Facility e WRI Brasil, com apoio de instituições internacionais ligadas à sustentabilidade e ao transporte urbano. Trata-se do primeiro fundo do tipo no país, concebido para reduzir o risco de crédito e facilitar o acesso de operadoras e prefeituras a recursos de longo prazo, promovendo a transição para um transporte público de emissão zero. Inicialmente, as cidades do Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Belo Horizonte serão contempladas, com possibilidade de expansão para outras regiões. Além de reduzir emissões e dependência do diesel, o projeto deve impulsionar a produção nacional de ônibus elétricos e infraestrutura de recarga, contribuindo para que o Brasil avance rumo à meta de neutralidade de carbono até 2050. (Cenário Energia - 05.11.2025)
Detran-SP: Frota de VEs cresce 1.278% em SP desde 2019
O número de veículos eletrificados em São Paulo vem crescendo de forma expressiva, refletindo o avanço da mobilidade sustentável no estado. De acordo com o Detran-SP, os emplacamentos de veículos novos com opção de carregamento elétrico aumentaram de 4.307 unidades em 2019 para 59.354 até setembro de 2025, um salto de 1.278% em seis anos. A participação desses modelos na frota 0 km subiu de 0,44% para 7,42% no período, com expectativa de alcançar 77.220 unidades até o fim do ano, o que representaria alta de 31,5% em relação a 2024. Os veículos 100% elétricos (BEV) foram os que mais cresceram, passando de 429 emplacamentos em 2019 para 16.643 em 2025. Além do avanço dos eletrificados, o estado também registrou aumento na frota de veículos movidos a etanol, que chegou a 15,1 milhões de unidades, representando 50,3% do total. Apesar disso, os automóveis a gasolina ainda predominam, com 25,7 milhões de veículos ativos, equivalentes a 85,7% da frota paulista. O resultado consolida São Paulo como o maior mercado de veículos eletrificados do país, impulsionado pela ampliação da infraestrutura de recarga, maior oferta de modelos elétricos e incentivos fiscais, como a isenção parcial do IPVA para veículos a bateria. (Inside EVs - 31.10.2025)
Editorial de O Carreteiro: “Transição energética: país tem potencial, mas falta infraestrutura”
Em editorial, O Carreteiro destaca que o Brasil tem potencial único para liderar a transição energética global, especialmente na descarbonização da mobilidade, devido à sua matriz elétrica limpa, histórico consolidado com biocombustíveis e domínio tecnológico em etanol, biodiesel, biometano e hidrogênio verde. Segundo o Instituto MBC Brasil, que reúne representantes de toda a cadeia automotiva, essa transição deve considerar aspectos socioeconômicos e ser usada como vetor de reindustrialização, com geração de empregos e inclusão social. A entidade defende a descarbonização imediata da frota atual de 48 milhões de veículos, por meio do aumento do uso de etanol, biometano e biodiesel, além de políticas de renovação da frota. A eletrificação total é vista como insuficiente e o instituto propõe uma abordagem de neutralidade tecnológica. O maior desafio está na infraestrutura: o país tem hoje apenas 18 mil pontos de recarga para elétricos, mas precisaria de 830 mil até 2040, além de expandir a produção de biocombustíveis e do hidrogênio verde. O estudo aponta que o Brasil pode assumir protagonismo global, inclusive exportando energéticos e tecnologias sustentáveis, com destaque para o transporte rodoviário de cargas — responsável por grande parte das emissões — que deve ser prioridade na adoção de soluções limpas. O texto conclui que, enquanto muitos países ainda discutem qual caminho seguir, o Brasil já possui alternativas maduras e competitivas. (O Carreteiro – 04.11.2025)
Schneider Electric: Estudo aponta que eletrificação pode economizar € 250 bilhões anuais para a Europa
Um estudo da Schneider Electric revelou que a Europa poderia economizar € 250 bilhões por ano até 2040 com a aceleração da eletrificação, cuja taxa atual é de apenas 21%, 10 pontos abaixo da China. Apesar de avanços em termos da redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) o continente ainda enfrenta o “trilema energético”, equilibrando custo, segurança e sustentabilidade, enquanto o preço médio da energia residencial (€ 0,27/kWh) é até três vezes superior ao chinês. O relatório mostra ritmos desiguais entre os países europeus, com as nações nórdicas liderando a eletrificação no transporte e edificações, e o sul europeu avançando mais em prédios. Já a Europa Ocidental e Central foca na indústria e nos prosumidores. Para manter a competitividade global, o estudo defende reduzir a diferença de preços entre eletricidade e gás, eliminar subsídios aos combustíveis fósseis e reformar a tributação para incentivar energia limpa. A publicação também recomenda acelerar o financiamento à descarbonização, facilitar investimentos e direcionar receitas do mercado de carbono a projetos sustentáveis. Outras medidas incluem tornar obrigatória a eletrificação em novos edifícios e indústrias, ampliar o uso de bombas de calor e veículos elétricos e incentivar mercados locais e inovação europeia, de modo a distribuir amplamente os ganhos econômicos e sociais da transição. (Agência CanalEnergia - 06.11.2025)
Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis
ABIHV: Associação contesta exigência de adicionalidade em medida provisória sobre H2V
A Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV) enviou ofícios aos ministérios da Fazenda e de Minas e Energia pedindo vetos à MP 1304, especialmente à regra de “adicionalidade”, que obriga novos projetos de autoprodução, como os de hidrogênio verde e data centers, a contratar energia apenas de novas usinas geradoras. Segundo a entidade, essa exigência ignora a realidade brasileira, cuja matriz elétrica já é 90% renovável e apresenta excedente de geração, tornando a norma desnecessária e onerosa. A ABIHV alerta que a medida pode inviabilizar empreendimentos eletrointensivos e afastar investimentos estimados em mais de R$ 110 bilhões até 2029. A associação argumenta ainda que o conceito foi importado de países com matriz poluente e que sua aplicação no Brasil ameaça a competitividade do setor. Por outro lado, apoia o artigo que adia para 2030 o início do Programa de Hidrogênio de Baixo Carbono (PHBC), avaliando que o prazo favorece o alinhamento com a expansão da rede de transmissão elétrica nacional. (Agência CanalEnergia – 06.11.2025)
Áustria: OMV e Masdar firmam parceria para construir uma das maiores usinas de H2V da Europa
A OMV e a Masdar assinaram um acordo vinculativo para desenvolver e operar em conjunto uma usina de hidrogênio verde de 140 MW em Bruck an der Leitha, na Áustria, que promete se tornar uma das maiores da Europa. A joint venture, com maioria da OMV e 49% de participação da Masdar, combina a experiência austríaca em combustíveis e produtos químicos integrados com a liderança dos Emirados Árabes Unidos em energia renovável. A construção começou em setembro de 2025 e a operação comercial está prevista para 2027. O hidrogênio produzido será de propriedade da OMV, que já opera um eletrolisador de 10 MW em Schwechat. As empresas também pretendem cooperar em combustíveis sintéticos sustentáveis e produtos químicos verdes na Europa e nos Emirados Árabes. Segundo os executivos Sultan Ahmed Al Jaber e Mohamed Jameel Al Ramahi, o projeto simboliza o fortalecimento da parceria energética entre os dois países e representa um passo estratégico rumo à descarbonização e à expansão da economia do hidrogênio na Europa. (Energy Monitor – 07.11.2025)
Brasil: Avanços e desafios do hidrogênio de baixo carbono marcam nova etapa da transição energética
O hidrogênio de baixo carbono (H2BC) ganha destaque como vetor estratégico para a descarbonização e segurança energética, e o Brasil se posiciona entre os países com maior potencial de produção. A aprovação da Lei nº 14.948/2024 consolidou avanços institucionais ao criar a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão, o regime de incentivos Rehidro e o sistema de certificação SBCH2, sob regulação da ANP. Contudo, a falta de regulamentação desses instrumentos, os entraves de acesso à rede elétrica e as incertezas nos critérios de certificação limitam a expansão do setor. O parâmetro nacional de até 7 kgCO₂eq/kgH₂ é mais flexível que o padrão internacional, o que favorece projetos domésticos, mas restringe exportações. Estudo do programa H2Brasil estima potencial técnico anual de até 4,6 bilhões de toneladas, com custo médio de US$ 6,70/kg. Hoje, 74 projetos somam US$ 68 bilhões em investimentos, e 111 empreendimentos já são mapeados no país. Para transformar potencial em liderança, o Brasil precisa investir em tecnologia, integração industrial e produtos de alto valor agregado, como aço limpo, fertilizantes e combustíveis sintéticos, consolidando o H2BC como pilar de reindustrialização sustentável. (Agência Eixos – 05.11.2025)
Comissão Europeia: Plano para impulsionar investimentos em combustíveis sustentáveis marítimos e aéreos
A Comissão Europeia lançou o Sustainable Transport Investment Plan (STIP), um plano estratégico para impulsionar investimentos em combustíveis renováveis e de baixo carbono, com foco nos setores marítimo e aéreo. O objetivo é cumprir as metas do FuelEU Maritime e ReFuelEU Aviation, que exigirão cerca de 20 milhões de toneladas de combustíveis sustentáveis até 2035, com investimentos estimados em €100 bilhões. O STIP faz parte do EU Clean Industrial Deal e do EU Competitiveness Compass, e pretende mobilizar €2,9 bilhões até 2027 por meio de instrumentos como: €2 bilhões do InvestEU, €300 milhões do Banco Europeu do Hidrogênio, €293 milhões do Fundo de Inovação e €133,5 milhões em P&D no âmbito do Horizonte Europa. O plano visa ampliar a produção doméstica de biocombustíveis e e-fuels, reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados e garantir competitividade industrial. A Comissão também prevê criar um mecanismo de conexão entre produtores e compradores para garantir previsibilidade de receita e reduzir riscos de investimento. A Danish Shipping elogiou o STIP, destacando a urgência de expandir a oferta de combustíveis verdes e a importância de medidas como contratos de longo prazo com menor risco e leilões de duplo sentido para reduzir a diferença de preço entre combustíveis fósseis e sustentáveis. Para a entidade, o sucesso dependerá da cooperação entre países, setor privado e sociedade civil. (Offshore Energy – 05.11.2025)
EDF Power Solutions: Inauguração de planta de H2V no RJ
A EDF Power Solutions inaugurou sua primeira planta de hidrogênio verde (H2V) no Brasil, instalada na UTE Norte Fluminense, em Macaé (RJ). O hidrogênio, com pureza de 99,999%, é produzido no próprio local e utilizado no sistema de resfriamento dos geradores da usina. O projeto, desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PROPDI) da Aneel, recebeu investimento de R$ 4,5 milhões e iniciou a produção das primeiras moléculas entre setembro e outubro de 2025, por meio de eletrólise alimentada por energia solar. A unidade conta com capacidade de produção de 18 m³ diários de H₂V e armazenamento de até 120 m³, operando de forma independente da rede pública. Antes, o hidrogênio utilizado era adquirido de terceiros, sem garantia de origem renovável. A geração local do H₂V, portanto, traz ganhos ambientais e logísticos, além de contribuir para a descarbonização e a eficiência operacional da EDF, reduzindo custos e emissões associadas ao transporte rodoviário do insumo. (Megawhat - 07.11.2025)
Energisa: Investimento de R$ 100 milhões em nova usina de biometano no PR
O grupo Energisa anunciou a aquisição de 52% da Lurean, empresa paranaense especializada em tratamento de resíduos e produção de adubo orgânico, para construir sua segunda usina de biometano, com capacidade de 28 mil m³/dia. O investimento, estimado em R$ 100 milhões, prevê início das operações no primeiro trimestre de 2028. A iniciativa reforça a estratégia de diversificação da Energisa e sua consolidação como fornecedora de soluções energéticas sustentáveis e de baixo carbono. A companhia já possui uma planta em Santa Catarina, desenvolvida pela Agric, adquirida em 2023, que produzirá 25 mil m³/dia a partir de 2026. Segundo Débora Oliver, diretora-presidente dos Negócios de Gás do grupo, o novo projeto aproveita o ambiente favorável criado pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Energias Renováveis e o avanço do Paraná em políticas para o biometano. A Energisa amplia, assim, sua presença na economia circular, integrando geração de energia, gás natural e biocombustíveis sustentáveis às suas operações. (Agência Eixos – 04.11.2025)
Recursos Energéticos Distribuídos e Digitalização
ABGD prevê desaceleração da geração distribuída em 2026 e alerta para riscos regulatórios
A Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) prevê desaceleração da geração distribuída (GD) no Brasil em 2026, com crescimento entre 10% e 15%, abaixo dos 25% estimados para 2025, em um contexto de incertezas regulatórias, aumento de custos e discussões tarifárias. A GD fechou 2024 com cerca de 35 gigawatts (GW) instalados e hoje soma aproximadamente 43 GW. O debate sobre incluir a GD no compartilhamento das perdas decorrentes de cortes de geração determinados pelo Operador do Sistema Nacional (ONS) é apontado como fator de risco por Carlos Evangelista, presidente da ABGD, que alerta para potenciais impactos negativos em novos projetos e no custo da energia caso não haja justificativa técnica e ampla discussão. Ele também ressalta cautela com a Medida Provisória (MP) nº 1.300/2025, que pode afetar o modelo de compensação de energia. (bnamericas - 05.11.2025)
Artigo GESEL: “Estratégia para os data centers após a promulgação do Redata”
Em artigo publicado pelo Broadcast Energia, Nivalde de Castro (Professor do Instituto de Economia da UFRJ e Coordenador-Geral do GESEL), Piero Carlo Sclaverano dos Reis e Cristina Rosa (Pesquisadores Associados do GESEL-UFRJ) analisam a estratégia para o desenvolvimento de data centers no Brasil após a promulgação do Redata — regime especial que busca consolidar um marco de política industrial e ambiental para o setor. O avanço da Inteligência Artificial (IA) acelera a demanda por infraestrutura digital, exigindo grande oferta de energia elétrica confiável e competitiva, já que os data centers são eletrointensivos. A demanda projetada saltou de 2,5 GW em 2024 para 20,1 GW em 2025, o equivalente a quase um quarto do consumo médio nacional, evidenciando uma tendência estrutural. Para converter esse crescimento em infraestrutura concreta, os autores propõem uma estratégia baseada em quatro eixos integrados: planejamento e investimentos adicionais na rede elétrica; estímulo à eficiência energética e flexibilidade da demanda; expansão da geração limpa e flexível; e avanço nos sistemas de armazenamento de energia (SAE), que garantem segurança e estabilidade. O artigo conclui que o sucesso do Redata dependerá de um planejamento energético coordenado, transparente e monitorável, capaz de transformar a corrida por data centers em uma trajetória sustentável e previsível, fortalecendo a infraestrutura digital e a competitividade do país. Acesse o texto aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 04.11.2025)
Artigo de Arvin Ganesan: “Por que esta métrica pouco conhecida decidirá o valor de recursos energéticos futuros”
Em artigo publicado no Utility Dive, Arvin Ganesan (CEO da Fourth Power), explora a importância crescente da métrica Capacidade Eficaz de Suporte de Carga (ELCC, na sigla em inglês) no planejamento do futuro energético. Tal relevância, segundo o autor, está inscrita na necessidade dos operadores de garantir que cada fonte de energia contribua de forma confiável durante os momentos de maior estresse no sistema, como picos de demanda. O ELCC mede quanto uma fonte pode realmente entregar nesses momentos críticos, e não sua produção total ao longo do tempo. Renováveis como solar e eólica têm ELCCs mais baixos, pois sua disponibilidade é intermitente. A expansão dessas fontes e da demanda impelem a adoção de armazenamento de energia de longa duração (LDES), como baterias térmicas, que permitem expansão modular e eficiência a custos menores, à medida que baterias de curta duração passam a perder efetividade. Dessa forma, o artigo conclui que o sucesso da transição energética exige tecnologias adaptáveis, que mantenham a estabilidade da rede e evitem desperdícios. O ELCC se torna, assim, um critério decisivo na escolha de soluções energéticas futuras. (Utility Dive - 05.11.2025)
Artigo de Renato Zimmermann: "A guerra energética e o futuro da geração distribuída"
O artigo de Renato Zimmermann, membro do Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), analisa o conflito atual entre dois modelos de geração de energia no Brasil: a geração centralizada, baseada em grandes usinas e controlada por poucos grupos econômicos, e a geração distribuída (GD), que se caracteriza pela produção descentralizada de energia pelos próprios consumidores, principalmente por meio de sistemas solares fotovoltaicos. Segundo o autor, a recente Medida Provisória (MP) nº 1.304, apresentada com o argumento de “modernizar o setor elétrico”, favorece o modelo centralizado e ameaça os avanços alcançados pela GD, que já conta com mais de 2 milhões de sistemas conectados e gera cerca de 300 mil empregos diretos e indiretos. Zimmermann critica as narrativas que buscam deslegitimar a energia solar e defende que a verdadeira modernização do setor está na integração inteligente dos recursos energéticos distribuídos, como painéis solares, baterias e veículos elétricos, à rede elétrica nacional. Para ele, a geração distribuída representa uma revolução democrática, sustentável e inevitável, que aponta para um futuro energético livre, limpo e compartilhado no Brasil. (Canal Solar - 07.11.2025)
Artigo de Thomas Sisto: “A era do excesso de energia renovável ‘gratuita’ acabou”
Em artigo publicado no Utility Dive, Thomas Sisto (CEO da XL Batteries) argumenta que era da energia renovável "gratuita" e desperdiçada está chegando ao fim devido ao rápido aumento na demanda elétrica, impulsionada por data centers e políticas de eletrificação. Segundo o autor, com a previsão de que os data centers consumirão 50 GW dos 100 GW de nova demanda nos Estados Unidos até 2030, o desperdício energético se tornará economicamente insustentável. Nesse cenário, o armazenamento de energia de longa duração (LDES) torna-se essencial para garantir a confiabilidade da rede e a viabilidade econômica da transição energética. No entanto, tecnologias LDES com baixa eficiência energética geram perdas significativas, que, em grande escala, implicam custos ambientais e financeiros massivos. O autor destaca que o Departamento de Energia dos EUA estima que serão necessários até 460 GW de capacidade de LDES até 2050 e que a RTE mínima viável para o setor deve ser de 70%, não os 50% anteriormente considerados aceitáveis. Tecnologias com alta RTE evitam desperdícios, reduzem a necessidade de sobreinvestimentos em infraestrutura renovável e aumentam o retorno financeiro dos projetos. O autor comenta que casos como o do Texas e da Califórnia mostram que a eficiência energética tem impacto direto na rentabilidade e, portanto, deve ser critério central em decisões de investimento, regulação e planejamento da rede elétrica. O artigo conclui que apenas tecnologias de armazenamento seguras, escaláveis e altamente eficientes dominarão o futuro energético. (Utility Dive - 03.11.2025)
Solfácil: Crescimento da demanda por sistemas residenciais com baterias
O mercado solar residencial brasileiro apresentou variação de preços no terceiro trimestre de 2025, segundo o Radar Solfácil. Os sistemas de menor porte, de até 6 kWp, registraram aumento médio de custo devido à alta demanda, enquanto os de maior potência tiveram redução de preços em razão da retração do segmento. O custo médio nacional alcançou R$ 2,49/Wp, com o aumento concentrado nas faixas de menor potência. De acordo com o CEO da Solfácil, Fábio Carrara, o cenário indica uma inversão de tendência no setor e tem estimulado o crescimento de soluções híbridas com baterias, que oferecem maior autonomia e eficiência aos consumidores. Nos projetos de maior escala, a queda de preços reflete a competição acirrada e a busca por diferenciação técnica, impulsionando o uso de tecnologias mais avançadas, como inversores inteligentes e sistemas de armazenamento de energia. (Canal Solar - 04.11.2025)
Impactos Socioeconômicos
ABRACE: Consumidor brasileiro irá pagar R$ 1 bilhão por ano por renovação de térmicas a carvão
A ABRACE (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres) alertou que a prorrogação dos contratos de usinas termelétricas a carvão mineral pode gerar um custo extra de cerca de R$ 1 bilhão por ano aos consumidores até 2040. A medida está prevista no Projeto de Lei de Conversão (PLV) nº 10/2025, derivado da Medida Provisória 1.304/2025. Em carta enviada ao governo federal, a entidade pediu o veto presidencial a esse e a outros trechos do projeto, argumentando que eles aumentam encargos e prejudicam o planejamento do setor elétrico. Entre os pontos criticados, a ABRACE se opõe ao ressarcimento por cortes na geração eólica e solar — que poderia custar R$ 7 bilhões até o fim de 2025 — e à contratação obrigatória de novas usinas a biomassa e pequenas hidrelétricas, estimada em R$ 7,9 bilhões por ano. A associação também rejeita restrições à autoprodução de energia e o uso de recursos da CDE para financiar antenas de TV, além de questionar a priorização da interligação elétrica entre Porto Velho e Manaus. Segundo o presidente da entidade, Paulo Pedrosa, essas medidas representam retrocessos, pois elevam custos, criam reservas de mercado e dificultam a transição para uma matriz energética mais limpa e eficiente. (Canal Solar - 06.11.2025)
Artigo Ergi Canpolat e Varalakshmi Vemeru: “Como a transição energética da África pode quebrar a maldição dos recursos”
Em artigo publicado pelo Fórum Econômico Mundial, Ezgi Canpolat e Varalakshmi Vemeru (World Bank Group) defendem que a transição energética global representa uma oportunidade para que a África rompa com o chamado “paradoxo do extrativismo” — a coexistência de riquezas minerais com pobreza estrutural — e transforme seus recursos críticos em desenvolvimento econômico local. Com vastas reservas de minerais essenciais para tecnologias limpas (como cobalto, manganês e grafite), o continente está no centro da descarbonização mundial. No entanto, sem ações deliberadas, há risco de repetir um ciclo histórico de exploração sem benefícios locais. Um estudo do Banco Mundial propõe seis caminhos para converter esses recursos em empregos e inclusão: (1) dar voz às comunidades nos processos decisórios da mineração, com marcos legais, compromissos de emprego e mecanismos de participação; (2) investir em infraestrutura estratégica que também atenda populações locais; (3) desenvolver programas de formação técnica inclusivos e co-projetados com o setor privado; (4) formalizar a mineração artesanal com apoio técnico e financeiro, sem criminalização; (5) fortalecer a governança e a transparência nos contratos e na regulação do setor; (6) implementar políticas de conteúdo local que envolvam pequenas empresas e grupos marginalizados. O texto também aponta riscos à frente: degradação ambiental, exclusão social, descompasso entre oferta e demanda de mão de obra qualificada, e o contínuo envio de matérias-primas para fora do continente sem agregação de valor. Sem mudanças nos contratos e políticas, a África pode continuar como fornecedora de matéria-prima barata, enquanto importa produtos industrializados. O artigo conclui que uma transição energética justa exige transformar o modelo de exploração em um modelo de parceria, com geração de empregos de qualidade e empoderamento comunitário — provando que ação climática e justiça social devem caminhar juntas. (World Economic Forum – 03.11.2025)
Artigo de Maristella Svampa: “O paradoxo extrativista: entre a crise climática e a transição energética”
Em artigo publicado pelo Instituto Humanitas Usinos (IHU), Maristella Svampa (coordenadora do Grupo de Trabalho Metabolismo Social / Justiça Ambiental do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais [Clacso]), analisa criticamente o modelo dominante de transição energética, alertando para o "paradoxo extrativista": embora impulsionada como solução para a crise climática, a transição, como atualmente concebida, depende da intensificação da extração de minerais e metais, aprofundando desigualdades socioambientais, violências e impactos ecológicos. Baseado em dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o texto mostra que o extrativismo responde por mais da metade das emissões globais e por 90% da perda de biodiversidade associada ao uso da terra. A crítica central é que o discurso hegemônico aposta em soluções tecnológicas e eficiência para manter o modelo capitalista de crescimento ilimitado, ignorando seus limites físicos e sociais. A promessa de energias renováveis "limpas" oculta a reprodução da lógica de concentração de lucros, expansão territorial e imposição de custos às populações vulnerabilizadas, especialmente na América Latina, onde comunidades indígenas, quilombolas e camponesas enfrentam múltiplas formas de violência. O texto defende que a verdadeira transição energética só será justa se romper com as bases do extrativismo e da desigualdade global, adotando uma transformação ecossocial pautada em descentralização, desprivatização, democratização e justiça ambiental, superando o modelo corporativo e tecnocrático atual. (Instituto Humanitas Usinos – 03.11.2025)
CSEP: Relatório aponta que descarbonização em economias emergentes exige de US$ 2,2 trilhões
Segundo o think tank Centre for Social and Economic Progress (CSEP), nove economias emergentes do G20 (Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Rússia, África do Sul e Turquia) precisarão de US$ 2,2 trilhões em financiamento climático entre 2022 e 2030 para descarbonizar os setores de energia, transporte rodoviário, cimento e aço. A China responde por 60% dessa necessidade. Excluindo-a, os demais países demandariam US$ 854 bilhões — cerca de 0,5% do PIB anual dessas nações. Contrariando narrativas comuns, o relatório afirma que a transição do setor de energia para fontes renováveis exigirá o menor volume de financiamento, graças à queda dos custos de solar e eólica, hoje inferiores aos de fontes fósseis. Já o setor de aço concentra a maior parte da necessidade (US$ 1,2 trilhão), seguido por transporte rodoviário (US$ 459 bi), cimento (US$ 453 bi) e energia (US$ 149 bi). No transporte, os maiores custos estão na infraestrutura de recarga, e não nos veículos em si. A mitigação potencial seria de 33 bilhões de toneladas de CO₂, a um custo médio de US$ 53 por tonelada. Contudo, os financiamentos atuais são insuficientes: mesmo com o crescimento previsto, o apoio dos bancos multilaterais cobrirá apenas 7% a 9% da necessidade até 2030. O relatório defende que os setores de cimento e aço sejam tratados como bens públicos para fins de financiamento. (Carbon Copy – 05.11.2025)
Editorial Stimson: “A transição energética global visa garantir o futuro, não gerir o declínio”
Em editorial, a Stimson argumenta que a transição energética global não deve ser encarada como uma gestão de declínio — com menos energia e crescimento limitado — mas sim como uma oportunidade de garantir um futuro mais seguro, justo e próspero. Destaca-se que, para muitos países de baixa e média renda, o foco não está na descarbonização, mas no acesso à energia como base para o desenvolvimento. Com cerca de 750 milhões de pessoas sem eletricidade, principalmente na África Subsaariana, o desafio é expandir a infraestrutura energética de forma sustentável, o que exige parcerias políticas, tecnológicas e financeiras. O texto critica a visão de que a transição comprometeria a segurança energética e econômica, afirmando que a dependência dos combustíveis fósseis é, por si só, instável e custosa. Embora as energias renováveis tenham respondido por 83% do aumento global da eletricidade em 2024, a maior parte dos investimentos ainda está concentrada na China e Índia, com apenas 15% destinados ao Sul Global (excluindo a China). O texto também expõe os impactos econômicos das mudanças climáticas e alerta que, sem uma narrativa centrada em diversificação, modernização e segurança energética — e não escassez —, países em desenvolvimento podem se sentir excluídos do processo. A conclusão é que o sucesso da transição dependerá da consistência dos compromissos das grandes economias e da construção de um novo paradigma de cooperação global, voltado à inclusão, estabilidade e crescimento sustentável. (Stimson – 03.11.2025)
IRENA: Energia renovável impulsiona desenvolvimento sustentável e inclusão social global
Na COP 28, os países concordaram em triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, alcançando 11,2 terawatts, segundo o World Energy Transitions Outlook da IRENA. A meta vai além da expansão energética: busca integrar o acesso à energia com o desenvolvimento econômico e social, fortalecendo setores como agricultura, saúde, transporte e educação. Exemplos práticos ilustram o impacto dessa transformação: em Ruanda, sistemas solares de irrigação elevaram a produtividade e a renda de agricultoras; no Zimbábue, energia solar em clínicas e escolas melhorou o atendimento médico e o aprendizado; no Sri Lanka, tuk-tuks elétricos reduziram custos e emissões, ampliando a renda dos motoristas; e na Mauritânia, soluções descentralizadas de energia solar fortalecem o setor pesqueiro e o sustento das comunidades costeiras. Esses casos mostram que o acesso à energia limpa é motor de crescimento inclusivo e resiliência climática. A IRENA convoca governos a ampliar metas e financiamento, transformando a COP30 em um marco global, pois, como destaca a agência, “energia é apenas o meio — desenvolvimento é o fim”. (IRENA – 06.11.2025)